Meninos Moderninhos...
Esses meninos moderninhos, cabelos amarrados em rabo-de-cavalo, cheios de papos furados e de desprezo pelos mais velhos, eternos ficantes das mais lindas gatinhas, que nunca abriram um dicionário para saber o que significa o vocábulo “casamento”, podem se dar muito mal, por aqui, no meu bravo Nordeste, onde ainda se encontra muito cabra da peste disposto "a lavar a honra da família" com uns tiros de espingarda ou umas peixeiradas. Pois vou lhes contar uma história sobre o assunto.
Sebastião, coronelão de uma cidade do interior que, segundo se presumia, já tinha enviado uns cinco ou sete para a cidade dos pés juntos, tinha duas filhas solteiras e naturalmente desejava ardentemente casá-las, pois em certas cidades do atrasado interior nordestino passar dos 21 anos sem casar é constrangedor para uma moça: dizem logo que ela ficou no caritó, ficou para titia, ou alguém mais esperto comeu a fruta proibida e deu no pé e, neste último caso, além de solteirona encruada, ela entra para o suspeitíssimo grupo das descabaçadas da vida.
Por isso, Sebastião vivia doido para encontrar um bom partido para passar o abacaxi à frente. Não seria difícil com relação a Margarida, tinha dezessete anos e era linda de morrer, vivia cercada de namorados; mas, para Expedita, o negócio estava sinistro: era feia como um processo, baixinha e gordota.
Então aconteceu que apareceu pela cidade um desses meninos moderninhos, um tal de Luciano Lero, que fisgou o coração da ingênua Margarida. O coronelão não ficou muito satisfeito, devido ao jeitão do moço: cabelos amarrados, brincos nas orelhas, cheio de piadinhas e de ditos espirituosos e, ainda por cima, violeiro de profissão. Mas o coronel não quis perder a oportunidade de casar uma filha e foi deixando o tempo passar.
E o tempo passou demais...
Com um ano de namoro, o coronel chamou Luciano Lero para uma conversa séria. E foi direto ao assunto:
- Afinal, cabra, tá namorando com a minha filha pra casar ou pra que é?
Luciano Lero respondeu com um sorriso cínico:
- Sô, acho que é mais pra que é.
O coronel fechou a cara, foi lá dentro, fez alguns chamados em voz baixa e voltou, acompanhado de Expedita, toda de branco, e de uns jagunços fortemente armados. Então, pegou Expedita pela mão, puxou um trabuco enorme, e perguntou, apontando direto para a testa de Luciano Lero:
- E esta aqui, é pra casar ou pra que é? - antes da resposta, os jagunços engatilharam os seus trabucos e apontaram para o violeiro.
Luciano Lero engoliu em seco, apavorou-se com o ruído das armas sendo engatilhadas, suava abundantemente, e mal podendo conter a tremedeira nas pernas, balbuciou:
- Bom, meu senhor, é pra casar... Mas não era pra casar com a outra, a Margarida?
- Era, mas mudei de ideia. Se casar com a Expedita, hoje mesmo você será meu genro; se disser não, em dois minutos será um presunto. E o tempo tá passando, cabra: é pra casar ou pra que é?
- É pra casar, meu senhor...
Assunto resolvido, as armas retornaram aos coldres e o juiz foi chamado às pressas.
A vida é bela, mesmo casado com uma rotunda baranga...