Sabão de bola - BVIW
Tema: Um dia sem luz
Era um dia em 1946. A lavadeira Santinha estava no rio, lavando a roupa da sua patroa, dona Maria Joaquina. Enquanto batia a roupa na pedra lisa, os pensamentos batiam também. É que ela havia largado em casa, a algumas léguas dali, uma penca de filhos, todos pequenos, aos cuidados da mais velha de 12 anos. E Salete estava naquela fase de sonhar acordada. Andava diferente desde o São João, no pequeno povoado de Vista Bonita. A mãe já tinha reparado… Espuma com sabão de bola, rio com sabor de calma, roupa com odor de curral e de suor, bate, bate, bate… Santinha tinha a força e o vigor dos seus vinte e tantos anos. Bate, bate, bate… De repente, o dia mudou de cor! Santinha percebeu nas águas do rio, que ficou turvo. Mas não havia nuvens de chumbo no céu para justificar a noite no meio do dia. Santinha parou o serviço, o pensamento buscou a filharada que devia estar estribuchando de chorar… Saiu correndo para pedir licença à patroa para ir em casa acalmar seus pequenos. No casarão da patroa, os filhos estavam assustados também. O que seria isso no céu, onde a lua, em pleno dia, engolia o sol? Santinha correu muito e ao chegar na sua palhoça, o dia começava a ganhar cor de novo… Salete cantarolava baixinho e penteava os macios e pretos cabelos, mirando-se no pedaço de espelho pendurado na parede, enquanto a casinha estava de perna pro ar! Nem viu o eclipse total do sol acontecer nos céus daqueles rincões mineiros, no meio do nada…
(Inspirado na crônica baseada em fatos reais, no livro Olho de Gato, Rabo de Tatu, de Neneve Castro, minha mãe).