O saci que conheci

Saci-pererê, moleque travesso, que fumava cachimbo e carregava um capuz vermelho que lhe dava poderes mágicos, perversos. Personagem que habitou meu quarto, meus sonhos, meu quintal, minhas matas, minha vida. E que, de certa forma, impôs certos limites a uma criança curiosa, destemida, que não via o perigo em nada...morava na roça, onde, claro, havia situações de perigo constante: ninhos de cobras, vacas bravas, abelhas, espinhos, escorpiões, poço caipira, para captação de água pro consumo da família, riachos, córregos, tachos fervendo a carne de porco, a rapadura, a pamonha, o sabão de abacate. Minha mãe precisava colocar em mim um freio. E quem ela utilizava como aliado? O saci, malvado que só , e, se a desobedecesse, com certeza ele viria à noite me perturbar.Esconder meus brinquedos. Resultado: um pouco de medo, mas nada que atrapalhasse meus planos, minhas artes de menina danada, sapeca . Estavam em mim. Vivia nos últimos galhos da laranjeiras, atrevessava o pasto sozinha , ajudava meu pai a tirar o leite, balançava nos cipós das árvores, pulava as cercas de arame farpado atrás de uma boa galinha para o almoço de domingo, ainda que me custasse deixar ali, parte da gordura da perna... pois é , dei trabalho pra Dona Chiquita, e para o saci também. Adorava desafiá-lo: Saci- pererê, com um perna só, não pode correr... certamente, em minha mente, a corrida já estava ganha ...

Benvinda Palma

Bemtevi
Enviado por Bemtevi em 08/08/2022
Código do texto: T7577754
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