Passou o dia olhando a rua pelo buraco da fechadura
A ordem da avó foi dura: - Não abrir a porta e nem se aproximar da janela enquanto ela estivesse ausente; não tirar o olho do buraco da fechadura e anotar no caderno quem olhasse para a casa. Almoço e banheiro em ação rápida. Todo esse tempo sentada em um pequeno banco e tendo como almofada um velho travesseiro.
E a neta Isabel, 9 anos, seguiu à risca a função.
Às seis e vinte da tarde a vó chega e foi perguntando: - Tudo anotadinho? Cansada? Quem passou e olhou para cá?
E Isabel descreveu com duas observações: - A antiga vizinha Tereza e seu marido passaram, pararam, olharam e falaram algumas coisas... E uma senhora usando um lenço verde na cabeça, parou em frente ao portão e cantou duas vezes:
“Nessa casa, nessa casa mora a bruxa
Que roubou, que roubou o meu marido
E quando ele ficou doente e sem dinheiro
Lhe obrigou a voltar morar comigo.” - (cantiga de roda “Se essa rua fosse minha”.
- Vó, a senhora é bruxa?
- E tenho cara, Isabel? Venha, vamos lanchar. Depois a vovó lhe ensina a fazer um perfume poderoso à base de asas de morcegos.