PROFESSORA DILINA E O PAPAGAIO ARAÚJO

Todos nós temos guardado, com muito carinho, em nossa memória aquela figura respeitosa e amiga: o nosso querido professor. Porém lá nos anos 50, os professores eram rígidos e temidos pelos alunos.

Dilina lecionava em sua escolinha, no bairro do Prado, em Maceió. Lá, aluno malcriado levava uma reguada, puxões de orelha até sangrar. A tabuada tinha de estar na ponta da língua. Quando chegava época de provas o terror se apoderava dos estudantes: dor de barriga, calafrios, tremores... A razão de tanto medo era que o método de aplicação dos exames era através de arguição ( prova oral, o aluno tinha que responder questões de todas as matérias olhando no olho da professora, sem titubear). Quem errava, além de ficar com nota vermelha no boletim, também ficava com as mãos vermelhas causadas pela palmatória. A cultura do medo nunca foi amiga do saber, o medo provoca distanciamento, e o saber pede vínculo e aproximação. Por isso os alunos, quando estavam com dúvidas, tinham receio em levantar a mão para a professora, num pedido para que ela viesse sanar o que não foi assimilado. A professora só explicava uma vez, e quem não se atentava na explanação ficava a ver navios. Alguns alunos se distraíam olhando o papagaio Araújo. O papagaio da Dona Dilina era uma espécie de inspetor. Quando a mestre saía da sala de aula para resolver algum assunto particular, Araújo ( o papagaio cagueta) cuidava em olhar a criançada. Binho, o aluno mais levado, adorava zombar do papagaio, e o animal o delatava para a professora. Assim que o bicho ouvia os passos da mestre retornando à sala, já começava a gritar:

_ "Dilina! Dilina! O Binho está reinando! Dá uma pisa nele! "

Binho dava a língua pro papagaio, e este não deixava por menos:

_ " Dilina! O Binho está cabuloso! Deu língua pra mim."

A professora Dilina já colocava Binho, o aluno mais levado, de castigo. Os outros alunos, ao verem a cena de Binho de pé e com o rosto voltado para a lousa e o papagaio cantando e zombando dele:

" BINHO, PENSA QUE É SABIDO.

MAS JÁ PERDI AS CONTAS

DE TANTAS QUE ELE APRONTA

E POR ISSO QUE É PUNIDO."

Os alunos começavam a dar um sorriso disfarçado, de canto de boca, para a professora Dilina não perceber.

De fato, o clima tenso era de praxe na escolinha da Dilina. Para ir ao banheiro ( casinha, como se dizia na época) tinha que pedir licença, se levantar e ir até o bureau da mestre pegar uma pedrinha,

e depois ir até a casinha se aliviar.

Quem estivesse apertado e não visse a pedrinha no bureau já sabia que o banheiro estava ocupado. Na escolinha da Dilina o alívio que os alunos tinham era só mesmo no banheiro. Até o papagaio, que é um animal de estimação, conhecido por seu jeito alegre e piadista, não tinha nenhuma graça. Era um dedo-duro. Mas o aprendizado deve ser levado a sério. Nisso, o papagaio Araujo tinha toda a razão. Dilina, mesmo com toda a sua rigidez, trazia dentro de si um amor pela profissão. O professor, em todas as épocas, jamais deve ser visto como um carrasco. O professor é amigo e na amizade deve haver respeito. A autoridade em sala de aula está com o professor. Nos tempos de outrora o jeito com que se demonstrava, com que se impunha respeito era através da cultura do medo. E a juventude insegura se via num beco sem saída, pressionado, sem direção, sem saber, sem alívio. Com o passar dos anos, a luz do conhecimento dissipou com as trevas do medo. Hoje em dia o professor está mais próximo do aluno, não há mais a cultura do medo. A problemática de hoje em dia está na educação que é dada em casa. Pois se os pais renegam o seu papel de educar, então essa criança, esse jovem passará a ser o carrasco do professor. Pois é uma criança que não sabe o que é limite. E a violência começa no coração de quem não sabe o que é limite.

( Autor: Poeta Alexsandre Soares de Lima)

Poeta Alexsandre Soares
Enviado por Poeta Alexsandre Soares em 15/07/2022
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