Seu perfume era barato; seu olhar, de nobreza
Para comemorar os 200 anos da revolução francesa (14 de julho de 1789), a embaixada em um país sul-americano convidou todo seu consulado e uma centena de autoridades políticas. O evento foi realizado em um espaço alugado. Uma indústria de cosméticos aproveitou a oportunidade (com a devida autorização) para fazer publicidade de seu novo produto destinado ao público feminino sendo o ‘mimo’ uma pequena amostra grátis. E para tal escalou William. Jovem, bonito, desinibido.
Não à toa, William tinha um excelente olfato. Ao se aproximar das damas, sabia qual perfume estavam usando. E suas narinas detectaram um perfume barato naquela bela e jovem senhora negra acompanhada de um senhor, também negro, 30 anos mais velho que ela.
Concluído o trabalho, permaneceu na festa e ocupou uma mesa onde podia observar toda aquela beleza. Ao som da orquestra, e já despidos de etiquetas provocadas pelas champanhes, todos se soltaram na pista de dança. Menos aquele casal. Ele, por sinal, durante todo o evento, não esboçou nenhum sorriso.
O pecado de William foi não ter se informado quem era o casal. Se tivesse esse ‘faro’, saberia que essa mulher era esposa do embaixador de um país africano, ex-colônia francesa. Também não detectou que era observado.
Na segunda-feira, ao chegar no trabalho, recebeu notícias do RH que estava demitido. Alegação: Importunação de sossego; atrevimento (assédio sexual.
Seu perfume era barato. Todavia, seu corpo exalava o desejo de liberdade, de paixão. Com toda nobreza.