UM EXAME PORRETA
Publicado no livro do autor, “Hacasos”, edição 2016
Antônio Luiz está casado com Maria das Dores há oito anos e, pelo menos há dois, o casal tenta ter um filho. Ela por ser mais sensível e mais interessada é uma pessoa até que esclarecida. Lê muito sobre o assunto e sempre que pode assiste aos programas de televisão que abordam os métodos para engravidar. Já ele, embora esteja há muito tempo na capital, ainda carrega os traços do homem do sertão. Boa pessoa, mas é rude em suas convicções. Machista ao extremo, demora em entender e a aceitar que a culpa por não engravidar pode ser dele e não da mulher, conforme os exames dela vêm apontando. − Onde já se viu duvidar da minha capacidade. Eu nunca neguei fogo. Logo, eu que nasci numa família de onze irmãos. Um time completo só de machos.
Incansável, a esposa tenta por todos os meios levá-lo ao Doutor Xavier para compreender o processo. Com muito custo e contrariado, ele concorda em ir à consulta. − Olhe aqui, seu Antônio Luiz, é necessário realizar exames para localizarmos onde está o problema. Vou encaminhá-lo para um espermograma. − Espermo o quê doutor? Doutor Xavier é um profissional muito atencioso, pacientemente explica: − Trata-se de um tipo de exame que analisa as condições físicas e a composição do sêmen humano. É explorado para avaliar a função produtora do testículo e problemas de esterilidade masculina. Para obter resultados de maior fidelidade, o senhor deve ficar em abstinência sexual de três a cinco dias, pois a quantidade e qualidade do esperma são afetadas pela quantidade de vezes que o homem ejacula. Enfim, recebe todas as instruções necessárias.
− Tá louco, é muito tempo. Não aguento não. − pensa. Mesmo confuso e sem saber se entendera ou não as explicações, Antônio Luiz aceita realizar o teste. Após várias tentativas, o seu plano de saúde finalmente libera a realização do exame. Consegue marcar e sozinho vai ao laboratório. Como todos os locais conveniados, recepção lotada, gente em pé, uma eternidade para o atendimento. Encabulado recebe da enfermeira um frasco de boca larga e esterilizado com as instruções em uma folha de sulfite e entra em um dos banheiros à disposição.
Passam-se incontáveis minutos e ele, por mais que tente, não consegue se concentrar, pois entende que a situação é ridícula, coisa de moleque espancar o sabiá no banheiro alheio e ainda ter que acertar o jato na boquinha da garrafa. Com muito esforço, fecha os olhos, imagina cenas eróticas e sensuais, puxa aqui, puxa acolá e, finalmente, consegue concluir o serviço. Cabisbaixo e exaurido, retorna para a recepção lotada e, com o frasco em mãos, diante de uma recepção lotada, plateia digna de grandes clássicos no Maracanã, espontaneamente em voz alta pergunta à atendente:
− Pronto, já gozei. Onde é que eu entrego essa porra?