No Meu Tempo de Menino

Por Nemilson Vieira de Morais (*)

Palmeiral, à margem do Rio Mearim, distrito de Esperantinópolis, MA, onde nasci, havia algumas lagoas. Pescávamos nelas.

Nas cheias, o rio invadia o bachio, a mata ciliar, chegava às lagoas e as águas emendadas viravam um mar; floresta a dentro.

Das abundantes embaúbas (conhecida como a árvore-da-preguiça, seus brotos, é seu alimento preferido) desprendiam-se frutos maduros e os piaus, os pacus... iam comê-los.

A gente navegava pela mata, nesse meio aquoso de canoa; pescávamos esses peixes de anzóis, utilizando os próprios frutos dessas árvores como iscas.

A nossa mãe, nos recomendava que coletássemos a água das suas raízes e a isso usávamos um litro...

Com um facão rompíamos alguma raiz aérea e colocávamos o vasilhame, no dia seguinte buscávamos. Esta cheio ou quase, desse líquido precioso. Era usado como remédio caseiro (um colega me informou que essa água, age como diurético e antisséptico urinário).

Eu devia ter uns sete ou oito anos...

Por influência de um irmão mais velho — que gostava de capturar pássaros, fazer gaiolas, alçapões — nos ajuntamos, a outros garotos e lá fomos nós... Munidos destes artefatos, a uma caçada de passarinhos.

Se as aventuras de passarinheiros fossem focadas em pipiras (sanhaços, figueiras), sabiás, íamos ao bananal do seu Afonso.

Nesse dia caçávamos pinta silgo, vim-vim (ou fim fim), pássaro pequeno que canta parecendo pronunciar seu próprio nome.

A tarde, de um dia qualquer atravessamos o rio à canoa e seguimos por uma estrada de rodagem sentido a São Joaquim.

Pela sequidão do tempo a lagoa que havia à nossa direita agonizava... a água foi minguando aos poucos, até se transformar em poças (algumas delas de lama).

Avistamos as ditas avezinhas às sua margem e as espreitas, preparávamos o alçapão numa árvore para as capturas...

Até sermos surpresos, interrompidos das nossas atividades, por gritos-suíno como a pedir por socorro; a montante da lagoa.

Aquilo nos incomodou de alguma maneira e, imediatamente interrompemos o que fazíamos e corremos como loucos por dentro da lagoa-seca na direção dos gritos do animal.

Um porco que se lameava, numa poça de lama estava sendo engolido vivo por uma enorme cobra sucuri.

Pela nossa idade não pudemos fazer maiores intervenções...

Tio Jonas que morava com os pais, nas proximidades, foi chamado e fora ver o que acontecia.

A nossa caçada de passarinhos acabou-se ali; pois, retornamos às nossas casas.

O tio com um ou dois colegas foram enfrentar a cobra para salvar o pobre porco. Quase perdeu a vida: a sucuri soltou o animal, o abocanhou pela mão direita e o puxou para si.

Seus companheiros não conseguiam o ajudar com o vigor necessário.

Até que lembrou-se da sua velha peixeira que não o largava para quase nada.

... Com dificuldade a puxou com a mão esquerda; e conseguiu desvencilhar da cobra e possivelmente morte.

O porco e o tio se salvaram, mas a sucuri não teve a mesma da sorte.

*Nemilson Vieira de Morais,

Gestor Ambiental/Acadêmico Literário. (01:07:22)

Nemilson Vieira de Morais
Enviado por Nemilson Vieira de Morais em 02/07/2022
Reeditado em 03/07/2022
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