Minha passagem pela Sanko
No ano de dois mil e um, entrei numa empresa depois de sair de um outro emprego em São Paulo, este era agora mais próximo da minha casa, todos os dias levantava às seis e vinte, tomava meu banho, me arrumava e saía para o trabalho, levava cerca de quinze minutos até meu local de trabalho, comecei como ajudante de produção, a empresa era muito boa, meus chefes super bacana, comecei no setor de embalagens, a encarregada era a Eliane, era paciente em ensinar e exigente na qualidade do serviço pois desta exigência era tido o resultado do trabalho a ser entregue ao cliente, vez ou outra surgia uma reclamação, ou por quantidade enviada ou por qualidade no produto, como sempre ocorre em qualquer local de trabalho, éramos chamados a reunião e tínhamos que responder os porquês.
Trabalhei neste setor por aproximadamente seis meses, e como sempre fui de dar ideias e tinha bom relacionamento com todos e cá para nós também atendia aos chamados para as horas extras, sempre de olho numa possível oportunidade, até que um dia me veio o convite a fazer um teste para uma vaga de apontador de produção, o aprovado iria cobrir a vaga da funcionária que sairia de licença maternidade, Jucely era o nome, sua barriga já estava enorme, fomos três os escolhidos para fazermos o teste, Tadeu era nosso chefe, aliás era quem comandava a produção da fábrica toda, o coração palpitava, acelerado, ali na minha frente estava um papel com perguntas que poderia ser a porta aberta para a oportunidade que eu sempre esperei, perguntas não difíceis e não fáceis, o relógio não me era amigo naquela hora, passavam rápido demais os minutos, até que chegou o fim do teste, provas recolhidas, agora era esperar o resultado.
Voltei para meu posto de trabalho, o dia correu normal, e ao findar o dia me veio a resposta, amanhã venha com uma roupa melhor, não venha com o uniforme, você foi aprovado para a vaga, eu sabia um pouco de informática, tinha idéias e sugestões, voltei para casa naquela tarde com o coração explodindo de alegria, em casa contei a novidade para minha mãe, ela feliz me desejou boa sorte, e então começamos nossa nova missão, cuidar dos papéis relativos à produção, distribuir documentos emitidos pela chefia, entregar requisições de materiais emitidas pelo chefe ao almoxarifado, fazer as relações de funcionários para as horas extras, fazer relatório de consumo de insumos como água e energia, e repassar ao Senhor Antônio Eduardo o gerente industrial, serviço este que era feito manualmente, calculadora todos os dias recebia as batidas dos meus dedos.
Num destes dias sentado à frente do computador me peguei perguntando a mim mesmo: "porque calcular na mão estas contas que podem ser feitas pelo computador???" Resolvi então fazer dois relatórios, um manual, e outro com dados em uma planilha criada por mim num programa chamado Excel, elaborei a planilha, coloquei os dados e inseri cálculos automáticos, pronto agora era só lançar os dados e as contas eram feitas automaticamente pelo computador, finalizado tudo, apresentei ao gerente, as duas versões, pois não queria que ele pensasse que eu estava passando por cima da ordem dele, a idéia era apresentar a sugestão e ver qual seria a reação dele, ele olhou e perguntou se os dados estavam corretos, eu balancei a cabeça e disse que sim, sai da sala e ele ficou com as planilhas.
No dia seguinte, ele me manda um disquete com novas planilhas criadas e melhoradas, nelas continham o controle de, energia e água, e agora também tinham gás e óleo Diesel, olhei assustado e vi que o tamanho da planilha não cabia numa folha A4, e lá fui eu novamente buscar uma solução para aquele tamanho de folha, eram praticamente três folhas juntas, reduzir aquilo para uma folha só era preciso, até porque seria uma economia não utilizar três folhas, puxa daqui, puxa dali, e consegui chegar ao denominador comum, voltei na sala dele três dias depois a novamente apresentei a planilha reduzida, e a pergunta do senhor Eduardo foi: " Você não mexeu nas fórmulas não né?" Eu imediatamente respondi: "Não, está tudo como o senhor me entregou, exceto o tamanho que foi reduzido", ele olhou a planilha, e eu voltei para a sala, e dali para frente nada mais de fazer cálculos manuais, era tudo feito pelo computador.
Em tempos de auditorias para a implementação de certificados de qualidade, nosso horário era corrido, trabalhávamos de doze a dezesseis horas por dia para atender as exigências, óbvio que não todos os dias, ou não suportaríamos tal carga horária, mas sempre nos dias próximos às auditorias, por vezes saia de casa às seis e quarenta, chegava na empresa, tomava o café, e em seguida já enfiava a cara a trabalhar para deixar documentos preparados para quando o auditor chegasse, assim fiquei por alguns meses até fechar um ano no cargo, todos os dias a mesma rotina, a sala era pequena, gostava do serviço, fazia ele com amor, até que num belo dia passados seis meses, a Jucely estava de volta ao trabalho, e aí fui designado para outra função, paralela ao que eu fazia, mas desta vez na manutenção, era o novo apontador de manutenção da empresa.
Desta vez a missão era elaborar os documentos relativos às manutenções dos equipamentos, registar manutenções corretivas, manutenções preventivas, elaborar relatórios de equipamentos com defeitos e que precisavam de reparos, tínhamos amigos na manutenção que atendia nossos chamados, e juntos fazíamos uma equipe muito boa, Sr Manuel, Gilberto, Rubião, este último lembro-me do dia que nos estranhamos na fábrica, eu ainda não estava na função, e ao dar uma sugestão, ele sentiu como se estivesse me metendo em seu trabalho, e ali surgiu um leve desentendimento, onde ele me disse, "está caçando pêlo em ovo" eu logo o respondi, que não se tratava de procurar pêlo em ovo, mas sim de ser algo útil pois poderia prevenir possíveis acidentes futuros, e ali então ele falou algo como se quisesse me dar um tapa na cara, eu então respondi: "não perca tempo meu amigo, tenho dois anos de empresa, mas antes de fazer tal ato, lembre-se de que você tem doze, e ponha na balança quem vai perder mais". Ali o assunto morreu e passamos um mês sem dirigir a palavra um ao outro, porém como eu sempre precisava conversar com algum deles, achei deselegante aquela situação, e me dirigi a ele pedindo desculpas se em algo tivesse eu errado com ele, surpresa minha, ele me pediu desculpas pois naquele dia estava de cabeça quente, e seguimos amigos até hoje embora tenha eu perdido seu contato.
Aquele era um trabalhão mas eu estava ali e minha nova função era atender as necessidades da chefia a mim confiadas, nosso chefe era o mesmo, desde a produção até a manutenção, o gerente era o mesmo, senhor Antônio Eduardo, nesta função mais uma vez passamos pelo crivo de trabalhar para as auditorias exigidas das ISOS, e para ter as certificação era necessário tudo estar preparado, cada máquina com seu documento, cada pasta deveria conter dados específicos relativos às manutenções das máquinas desde a sua criação.
Mais uma vez fomos convocados a trabalhar arduamente para atender aos requisitos, e fomos firmes e conseguimos.
Nesta função eu segui por um ano, passando o bastão para a amiga Ivanise que sairá da área da qualidade para entrar no quadro da manutenção e assumir minha função, eu logo estava seguindo para a qualidade nas desta vez para inspecionar materiais recebidos pela empresa no almoxarifado, função confiada a mim pelo senhor Antônio Eduardo, assim fiquei por dez meses, quando fui convidado pelo então encarregado da época, eu tinha uma proposta, sair para aprender os serviços externos feitos por ele, visitas técnicas, e passados alguns meses nada de sair, aquela promessa me corroía por dentro e eu deixando a ansiedade tomar conta dos meus pensamentos, até que um dia, cansado de esperar, chamei meu gerente e resolvi então solicitar meu desligamento da empresa, meu gerente e até hoje meu amigo, Antônio Eduardo me convidou a sentar na sala com ele e conversar, e assim o fiz, sentamos eu, ele e meu encarregado o Carlão, eu ali queria falar o motivo que estava me levando aquilo, talvez fosse apenas uma desculpa, e então não falei nada, apenas disse que não mais queria seguir na empresa, a está altura eu já estava casado e com uma filha que tinha meses, um dos maiores erros cometidos por mim, dói justamente naquele dia não enxergar a tamanha burrice que eu estava cometendo, o Sr Antônio Eduardo me deu quinze dias de férias, para refletir, ainda tive a oportunidade de ficar em casa e pensar se realmente era aquilo que eu queria.
Passados os quinze dias, voltei e a ideia não me saiu da cabeça, sentei novamente com meu gerente, e suas palavras para mim foram: "Roberson, a porta que você está fechando eu não possa abri-la novamente, você sabe disso não é?". Fui embora para casa naquele dia de cabeça erguida e com aquela sensação de que aquela era uma das maiores merdas que eu estava fazendo na vida, mas fiz.
Passados os dias, os acertos para receber meus direitos foram feitos, e tomei novos rumos, meses depois entrei numa outra empresa em Diadema mesmo, trabalhei por um mês até ser forçado a me mudar para o Rio de Janeiro, onde consegui trabalhar nas obras dos jogos panamericanos, depois disto ainda estive em mais três empresas na cidade do Rio de Janeiro, e desde dois mil e nove faço um personagem artístico de rua, o Carlitos criado por Charles Chaplin, desde dois mil e treze me dedico apenas ao trabalho de arte de rua, sou o Chaplin Carioca da cidade do Rio de Janeiro, tendo passado pela vida de milhares de pessoas nestes doze anos de arte de rua.
Acrescentando que, a Sanko foi a melhor empresa que passou pela minha vida profissional, meu carinho pelos amigos será eterno, e digo isso de todos os que conheci alí dentro. Desde o primeiro até o último dia não tive motivos para sair dela magoado com algo, como dito neste texto, talvez eu tenha buscado uma desculpa para sair, e hoje sim me arrependo embora esteja numa cidade maravilhosa e faça este personagem fantástico.