DEU BODE

Francisco de Paula Melo Aguiar

Era uma vez uma fábrica de tecidos fundada na última década do século XIX nas imediações da linha férrea. O empreendimento ao longo de sua existência passou por diversos proprietários. Com o passar dos tempos, o que era novo e moderno foi ficando velho, fora de linha, não só o maquinário e bem assim o tipo de tecido que fabricava. Também teve o declínio da matéria-prima, o algodão.

A fábrica foi responsável pela construção da primeira vila operária do estado e pela construção do primeiro prédio especialmente para funcionar uma escola: Grupo Escolar da Fábrica Tibiry, em Santa Rita. O senhorio empresarial se fazia "morar" nas imediações da companhia. Tinha prestígio político, empresarial e social na cidade, no estado e no país. Tanto é assim que os "seus" se elegiam vereadores, prefeitos, deputados estaduais, deputados federais, senadores, governadores... deitavam e rolavam os comentários da ordem do dia nos jornais de plantão e no cala-boca local, estadual e nacional.

A hemegomonia empresarial "dava" emprego, renda e moradia. Era o "céu" na terra. Tinha e da segurança social no tempo que não existia SUS e escola pública como atualmente.

O tempo se encarregou de levar a falência da CTP porque não modernizou seus "teares", suas máquinas e a fabricação de seus produtos em termos de tecidos grossos, foram surgindo tecidos no Brasil e no mundo com produtos finos em larga escala e preços semelhantes. Outro fator da falência foi a adaptação da empresa as obrigações sociais em favor dos operários: FGTS, INSS, salário mínimo obrigatório, direito de greve, cobrança de aluguel das casas , da energia elétrica e da água pela companhia.

O sindicato da companhia era "poderoso", um instrumento de luta dos operários e de política partidária. Muitos de seus dirigentes aversos a ideologia dos patrões eram perseguidos , demitidos e botados para fora da vila operária no mesmo dia. Quem fazia as vezes da "justiça" para fazer o despejo eram os vigias obedecendo as ordens emanadas da casa grande da fábrica. Só para exemplificar, um dos demitidos é despejado da fábrica foi o mestre de tecelagem Severo Rodrigues da Silva e suas irmãs. Foi a partir daí que ele resolveu ser professor particular em Santa Rita.

Com a revolução de 1964, muitos dos dirigentes do Sindicato da CTP foram presos e punidos pelos agentes do Estado repressor.

Esta história não é estória e não termina aqui... porque "mais vale o homem lento para a ira do que o herói. E um homem senhor de si do que o conquistador de uma cidade". (PROVÉRBIOS 16:32).

FRANCISCO DE PAULA MELO AGUIAR
Enviado por FRANCISCO DE PAULA MELO AGUIAR em 02/06/2022
Reeditado em 02/06/2022
Código do texto: T7528983
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