HISTÓRIAS DE “VISAGE” NO SERINGAL
HISTÓRIAS DE “VISAGE” NO SERINGAL
Autor Moyses Laredo
Nas casas das colocações nos seringais, nas noites de luar, faziam rodas em volta das fogueiras no terreiro. As histórias de visagens empestam como coceira braba, era só alguém começar que não parava mais, depois de ouvirem tantas histórias de assombração, ninguém queria sair por último quando saiam, eram agarradas uma nas outras. Numa noite dessas a vovó contou a sua também, que aconteceu quando tinha 11 anos, agora já nos seus 80 e laivai poeira diz que nunca saiu da sua lembrança.
Contou que tarde da noite, sentiu uma dor de barriga daquelas fulminante, que não tem tranca que dê jeito, botou culpa naquele pedaço de guariba, que desde “ternontonte” jazia esquecida numa panela no fundo do jirau, estava até meio ensebada, mas esquentou assim mesmo na brasa baixa do fogão à lenha já se apagando e mandou pra dentro junto com umas “conchadas” de mão, de farinha das caroçudas, achou que talvez fosse isso que não lhe desceu bem... também pudera! Assim que sentiu a primeira reviravolta no intestino do “chamado”, já veio com uma espirrada nos fundos da calça, levantou-se às pressas, não queria melar o lençol e saiu em direção à sentina (o mesmo que latrina) que nas casas do interior fica sempre a uma boa distância por causa do fedor. Quando abriu a tramela da porta da cozinha, para descer a escadinha dos fundos, batia um vento forte, daqueles que as folhas das bananeiras do quintal ficavam balançando numa dança maluca, foi quando “viu” perfeitamente, a silhueta de uma velha de cabelos longos prateado sair de trás de uma das bananeira e voltar no mesma pisada. Depois que enxergou aquilo se arrepiou todinha, voltou pra dentro de casa, de costas pé-a-pé, muito assustada, demorou um pouco mas a urgência era grande, a segunda onda veio com força, então teve que sair de novo, as tripas já apontavam para a “saída”, até sentiu escorrer pela perna, a falha na tranca da primeira linha de defesa do esfíncter, ai, quando botou a cara de fora, a velha apareceu do mesmo jeito, parecia querer brincar com ela. Gritou apavorada pela mãe - “Mamãe, mamãe me acuda, tem uma alma penada no quintal”, ao ouvir os gritos desesperado da filha, já saiu de dentro do quarto com o 128 (terçado) na mão, perguntando quem “tava ali”, mas ao mesmo tempo, também viu a tal velha que ia e voltava, não aguentou, caiu na gargalhada, era na verdade uma folha seca de bananeira, que ainda pendurada no talo, e sob a luz da lua, brilhava meio prateada, ficava indo e voltando com ação do vento, imitando os longos cabelos de uma velha. Depois de esclarecido a tal “visage”, a vovó contou que desceu as escadas nas carreiras, pipocando como a rabeta de um motor de popa, o rastro foi grande deixado no caminho, tanto que quando se acocou não tinha quase nada nas tripas. Depois contou que sua mãe lhe preparou um chá bem forte da folha da goiabeira já amanheceu bem melhor.