Disco Voador no Natal

 

     Eu tinha apenas oito anos e estava empolgado, assim como meus outros irmãos e dezenas de outras crianças, para a noite de entrega de presentes na igreja onde minha família congregava, cujo costume na véspera do Natal era distribuir brinquedos com as crianças da congregação. O culto terminaria por volta das 21 horas quando seriam distribuidos os presentes.

     Era uma alegria enorme tal momento. Todos receberam e aguardavam a contagem regressiva para abrirem os embrulhos e festejarem com seus pais. E ali notei um garotinho da mesma idade que a minha, já eufórico com seu presente, pois detectara pelo volume que tinha em suas mãozinhas, ser um disco voador. Tamanha era a sua euforia que contagiou a todos, inclusive a mim, que imaginei como seriam suas brincadeiras com seu presente. O meu presente se apresentava na forma de um carro, algo que me deixou também feliz. Eu adorava carros de brinquedo, seria mais um para minha coleção.

     Então...

     - ... cinco, quatro, três, dois, um. Podem abrir!

     Descobri que ganhara um carro de polícia, todo caracterizado com luzes e uma sirene. Outros também, mas havia bonecas para as meninas, bolas de futebol em embalagens disfarçadas, jogos...

     Enquanto todos partiram para seus pais, alegres e eufóricos mostrando seus brinquedos, eu lembrei do disco voador. E lá estava o antes entusiasmado garotinho, largado aos prantos e soluços, encostado num canto da parede, segurando com uma das mãos um jogo de talher e um copo, com a outra mão segurando um prato e uma espécie de cuia para tomar sopa, tudo em plástico vermelho.

     Não sei por quanto tempo durou todos aqueles atos, mas após me recuperar da emoção do carrinho de polícia e da visão daquele choro, fui ao encontro do garoto e tomei tudo o que era o "disco voador" de suas mãos e lhe entreguei o carrinho. Sem olhar para trás nem agradecer, ele saiu correndo aos seus pais para lhes mostrar o que ganhara.

     Poderia dizer que ninguém testemunhara minha atitude se não fosse um par de olhos atentos o suficiente  para que, ao chegar em casa, tomasse umas palmadas e severos sermões que tentaram me convencer que fiz algo errado. No início sempre me lembrava daquela noite quando tinha que almoçar ou tomar sopa no meu disco voador, lembrava do coleguinha da igreja, que só aparecia nas noites de Natal.

     Algumas vezes chorei pensando no carrinho de polícia que não ganhara, mas a alegria estampada no rosto daquele garoto, antes de abrir seu presente e depois que trocamos os presentes me deixa feliz até hoje.

     Nunca brinquei de disco voador com o presente que escolhi, mas nele fui obrigado a fazer muitas refeições...

 

     Juvênio de Lima Gomes