HISTÓRIA DE UM ESPERTALHÃO (O Falso do Mel)
Antigamente, como era costume se doar alguns produtos derivados de cana às pessoas que visitavam os engenhos de rapadura durante as moagens de cana, um homem, munido de uma cabaça, costumava ir a pé buscar mel num engenho de um conhecido dele. E sempre voltava pra casa com a cabaça cheia de mel; e além de beber de graça um copo de garapa ali mesmo no engenho, ainda ganhava de presente também um pouco de alfenim e uma rapadura.
Certa vez ao se dirigir ao engenho pela mesma estreita e sinuosa estradinha de terra, aquele homem encontrou um amigo, ao ir se aproximando um pouco do engenho.
E o amigo, esbarrando nele, e depois de cumprimentá-lo com “Bom dia”, de repente indaga: “Aonde você vai nessa carreira, meu amigo?!”.
“Vou buscar mel lá no engenho de Fulano. Eu costumo ir lá sempre”, responde ele.
E o amigo completa a indagação:
”O mel daquele engenho é bom, mesmo?”
“É nada, não presta pra nada, não vale nada; é igual merda de raposa! Vou buscar porque é de graça”, com ingratidão responde aquele homem.
E prosseguindo sua caminhada, ele chega finalmente ao engenho. E lá chegando, alegre e ardiloso, friamente cumprimenta a todos que trabalhavam ali na moagem da cana, inclusive o proprietário, que há alguns instantes, fazendo necessidade fisiológica detrás de umas moitas à beira daquela estradinha, ouviu in loco toda a conversa entre aquele homem hipócrita e aquele seu amigo.
“Eu vim aqui buscar de novo um ‘melzinho’; ô mel bom, muito bom; eu gosto demais!”, disse ele ao chegar ao engenho naquela manhã.
“E você gosta de merda de raposa?!”, indagou o proprietário do engenho.
E completou: “Você disse que o mel do meu engenho é igual merda de raposa!”.
Aquele homem pérfido e ingrato, ali aperreado e todo sem jeito, falou:
“Que história é essa?! Quem está inventando isso, levantando-me esse falso?!”.
O dono do engenho ali finalizou:
“Ninguém me disse, e não é mentira; eu mesmo ouvi você falar”. E ali explicou detalhadamente...
E aquele homem falso e espertalhão retornou para a casa dele com a cabaça vazia, sem mel e sem nada. E ele nunca mais foi àquele engenho.