DOIS AMIGOS INSEPARÁVEIS

DOIS AMIGOS INSEPARÁVEIS

Zezão e Pedro eram amigos inseparáveis, desde crianças, já que seus pais tinham fazendas vizinhas. Onde um ia, lá ia o outro, sempre solícitos. Creio que nem irmãos se davam tão bem, pois, ao longo dos anos, herdaram as propriedades dos pais, namoraram e se casaram com duas irmãs da redondeza, tiveram o mesmo número de filhos, seis cada um, eram compadres, enfim, sempre estiveram juntos em quase todas as ocasiões.

Como todos os rapazes do meio rural, também aprontaram algumas estripulias, como colocar caveiras feitas com mamão ou cabaça nos mourões das porteiras, contendo tochas dentro, que era para assustar quem andasse por aquelas estradas boiadeiras à noite. Iam aos bailes nos fins de semana, bebiam pinga, brigavam sem motivos, só para esquentar o frio das madrugadas naqueles ermos. Havia uma certa rivalidade entre os jovens da região, quase sempre porque um queria namorar a moça que “dava bola” ao outro. Os de Perdizinha não gostavam dos moradores de Zelândia, que eram perseguidos pelos de Bom Jardim, que não topavam os de Cascalho e Usina Pai Joaquim, também os do Morro da Mesa eram rivais ferrenhos daqueles de Itaipu, etc. Isto gerava constantes “sururus” entre os grupos, porém, nunca surgiu uma arma nesses entreveros, a não ser pequenos canivetes, o que quase todos usavam, já que a maioria fumava “pidipaia”. Raramente surgia algum pedaço de pau, brigavam mesmo era no braço, com consequências quase nulas, pois ninguém se machucava com gravidade.

Ou seja, embora considerados bons moços, eles não eram santos, já que também aprontavam das suas.

Certa vez, ainda não tinham nem dezoito anos, saíram num domingo para visitar um primo do Zezão, numa fazenda próxima, sendo que usavam a caminhonete do pai de Pedro, embora nenhum dos dois fossem habilitados. Porém, as estradas da região eram de terra, não havia policiamento, e isto era uma prática comum. Só não iam às cidades mais próximas da região: Araxá e Perdizes.

Ficaram por lá até por volta das cinco horas da tarde, conversando com os parentes, jogando truco, bebendo e dando risadas das próprias bobagens que diziam. Tinham que atravessar uma grande plantação de milho, que ficava às margens da rodovia BR-262, e que era propriedade de um pessoal lá do Rio Grande do Sul, uma povo que tinha uns costumes diferentes dos mineiros, ou seja, todos dali mantinham um certo isolamento com aquela gente.

Bem no meio do milharal, depararam com um carro parado, e também havia três sacos de milho ao lado dele, sendo que não se via o dono da “arte” nas proximidades. Foi então, que o Zezão soltou um grande berro, com a única intenção de assustar quem ali estivesse, e não deu outra. Um homem saiu correndo apavorado, passou por eles e entrou no carro, arrancando a toda velocidade.

- Uai, sô! Parece que ele ficou com medo, hein! – disse Pedro, se divertindo muito.

- Também, quem mandou o sujeito “ajudar” na colheita alheia? Bem feito! – respondeu Zezão, também gozando aquela inusitada situação.

- E agora? Se deixarmos o milho aí, com certeza ele vai se estragar, ou os tatus dão um fim nele, não acha?

- Bem, eis a questão. Se a gente levar isto para os gaúchos, eles vão pensar que nós colhemos. Então, o melhor a fazer é levarmos tudo para casa, amanhã faremos umas pamonhas, e pronto, ora!

Dito e feito. Carregaram os sacos cheios na carroceria da caminhonete, em casa explicaram as “coisas” direitinho, e acabou ficando tudo bem. Eles não costumavam mentir, seus pais acreditaram e até acharam bom.

Tempos depois, mais por farra, numa outra propriedade da vizinhança, os dois decidiram “dividir” com os donos algumas espigas de milho. Pararam a caminhonete na beira da lavoura, Pedro entrou lá e começou a jogar as espigas ao amigo, que ia colocando-as atrás do estofamento. Uma bobagem, porque se pedissem , a maioria dali permitiria a colheita, mas a “aventura” falou mais alto. Já estavam satisfeitos, só faltava irem embora com o carregamento, porém, surgiu um contratempo inusitado. Um cavaleiro vinha à galope pela estradinha, dando tiros para cima e xingando palavrões. Zezão viu primeiro e avisou a Pedro, que, sem outra alternativa, achou melhor descer a calça e fazer de conta que estava apenas fazendo uma necessidade fisiológica no local. Só que o homem não acreditou naquela estória, mandou o cavalo em cima do rapaz, quase atropelando-o.

- Calma aí, velho! O senhor quase me machucou, hein? Não viu que estou somente me “aliviando” no meio da lavoura?

- Vai contar esta “lorota” ao vigário, seu moço! Será que não passou pela cabeça de vocês que eu vi perfeitamente o que estavam fazendo? Faz um tempão que estou “sapeando” de longe, para que pudesse dar o bote na hora certinha, tá bom?

- Ora, nós não precisamos roubar nada de ninguém, conforme o senhor está insinuando, viu? Pode ver que não tem milho nenhum aqui dentro da caminhonete, se quiser, uai sô!

- Eu não estou insinuando, estou afirmando, moleques!

- Calma aí, também não precisa ofender, né? Não prefere conferir antes, se pegamos o milho do senhor?

- Não, basta que me entreguem o produto do roubo, e tudo bem! Caso contrário, vou ter que fazer um “estrago” nessas carinhas de santinhos do “pau oco” de vocês. – disse o homem, já de faca em punho.

- Pois então olhe aqui dentro! O senhor verá que estamos falando a verdade, pois não tem nada de milho aqui, não!

Meio relutante, o sujeito se aproximou, olhou na caçamba e dentro da boleia, só não olhou atrás do encosto, que estava lotado de milho verde. Foi a sorte dos rapazes, pois ele montou de novo e sumiu na primeira curva.

Ronaldo Jose
Enviado por Ronaldo Jose em 08/05/2022
Código do texto: T7511807
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