DIA DO TRABALHO. O SERVENTE DE PEDREIRO.

Duas da tarde, um sol pra cada um como dizem. Sol de estralar mamona ou de fritar ovo no asfalto. O rapaz, suando bicas, mexe o concreto, meio sem jeito. O pedreiro em cima do andaime, pitando um cigarro. Um jovem passa pela casa em construção. -"Tá precisando de servente de pedreiro, moço?" O outro para de trabalhar e enxuga o suor. -"Olha, rapaz. Estou precisando sim. Estou de férias e não levo jeito com a enxada." Um silêncio. O rapaz olha para o monte de areia e pedra. -"Paga quanto por dia?" O pedreiro presta atenção, ao fundo. -"Pago cinquenta. É o preço por aí. " O rapaz coçou a cabeça, olhou para um lado. -"Beleza. Tchau." Colocou os fones de ouvido no celular e se foi. Meia hora depois, o pedreiro foi tomar água. O dono da casa resolveu dar uma pausa também. -"Tá devagar pedreiro. Desse jeito chega o fim de maio e a casa não tá pronta. A patroa tá com pressa." O carrinho com tijolos. O pedreiro pediu argamassa. A torneira pingando. O caminhão do depósito com materiais de construção. O homem sem saber o que fazer. -"Que falta faz um bom servente." Um rapaz de bicicleta se aproximou. -"Moço. Tá precisando de servente?" O homem agradeceu aos céus. -"Estou precisando. Minhas costas agradecem." O rapaz parecia interessado. Era forte e poderia aguentar a empreitada. -"Paga quanto por dia?" O homem foi direto. -"Preço do mercado, por aí pagam cinquenta." O rapaz coçou o queixo. -"O senhor dá almoço?" O homem olhou para o pedreiro. -"Nem o pedreiro traz almoço, rapaz. Se eu incluir o almoço, te pago trinta." O rapaz nada respondeu e foi embora. -"Vamos adiantar pois pode vir chuva amanhã. Pode fazer bastante argamassa, seu Rodolfo." O homem pegou um saco de cal. As costas estragaram. Ele encheu um carrinho de areia. Um senhor sexagenário passou pela calçada. Ele olhou para a construção. A enxada sobre o monte de areia. O pedreiro parado, fumando. Rodolfo tentando pegar um saco de cimento. O senhor entrou na casa. -"Vamos pegar o cimento em dois, amigo. Assim. Agache e dobre os joelhos, alavanca." Rodolfo se admirou com a força do homem. -"Vou mexer a argamassa, você leva tijolo para o pedreiro." Era nítida a destreza do homem com a enxada. -"Vou tirar essa areia da calçada e cercar com tijolos. Se chover, a enxurrada leva a areia embora." Rodolfo tinha ganho ânimo. -"Vou ajudar o pedreiro com as vigas, já fizemos massa o bastante." Com um salto o homem subiu no andaime. A tarde caiu. O pedreiro foi embora. -"Até amanhã, seu Rodolfo. Hoje o trabalho rendeu." Rodolfo notou o homem se limpando. -"Rapaz, o treino foi bom." Rodolfo não tinha palavras. -"Desculpa, o senhor se sujou todo. Todo sujo de cal, coitado. Me ajudou muito. Deus o abençoe." O homem sorriu, exibindo um dente de ouro. -"Imagina. É bom ajudar as pessoas. Sou aposentado, não trabalho como antes." Rodolfo estava admirado. -"Nunca vi ninguém com tanta energia e vitalidade, alegre e organizado. Preciso de um servente. Se quiser poderá vir amanhã cedo." O homem tocou o ombro de Rodolfo. -"Venho sim. Você me abençoou e devolvo as bênçãos pra você, em dobro." O homem se foi. No jantar com a esposa, Rodolfo relatou o fato. -"Veio do nada e já foi me ajudando, trabalhando com garra e destreza. Nada reclamava, sorrindo. O pedreiro gostou dele. Ele me abençoou até. Nem perguntei o nome dele, Mariana!" A mulher sorriu. -"Eu sei. Deve ser anjo. Deus coloca anjos na nossa vida, às vezes nem percebemos." Rodolfo se preocupou. -"Mas algo me diz que ele não voltará. Saiu sujo, cansado. Tá aposentado e não vai querer ser servente por três meses." O sol ainda não tinha nascido quando Rodolfo chegou a construção. -"Pelo jeito o pedreiro ainda não veio. Vai dar trabalho cavar a viela pra achar a saída de esgoto." Alguém saiu de dentro da casa. -"Bom dia. Cheguei cedo demais?" Rodolfo olhou o homem com botas ,camiseta e boné. -"Agora sim, estou de acordo pra ser um servente. Aproveitei e capinei o mato lá no fundo. Organizei a pilha de tijolos também. Tá tudo limpo aqui dentro." Rodolfo estava encantado. -"Ótimo. Desculpa, não me apresentei. Sou Rodolfo, dono da casa." Ele estendeu a mão. O homem o cumprimentou firme, quase esmagando os dedos de Rodolfo. -"Angelim. Me chamo Angelim." O pedreiro chegou na sua bicicleta azul. -"Nem combinamos o preço da sua diária, seu Angelim. Quanto acha que devo pagar?" O homem abriu os braços, espalmando as mãos. -"O senhor é quem decide. O que puder pagar pra mim, tá ótimo. No preço que comida e remédio pesam no orçamento dos aposentados do Brasil, vai ser um ganho mais pra mim." Rodolfo se comoveu. -"Posso pagar setenta, está bom?" Angelim ficou feliz. -"Está ótimo. Muito obrigado por essa oportunidade, sei Rodolfo." Angelim trabalhou para Rodolfo por dois meses e meio. A sua dedicação e destreza anteciparam a data de conclusão da obra. Sempre contente, contando histórias, não reclamando de nada, Angelim conquistou a confiança de Rodolfo. -"Jesus disse que Ele e o Pai são trabalhadores, seu Rodolfo. . No céu, vai ter trabalho pra gente. Aqueles anjos lá, tocando harpa, sentadinhos, só em filmes." O pedreiro construiu mais três casas, em todas fez questão de ter Angelim como servente. Angelim e Rodolfo se tornaram grandes amigos. FELIZ DIA DO TRABALHADOR.

marcos dias macedo
Enviado por marcos dias macedo em 07/05/2022
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