PEDRO CORUJA
Pedro adquiriu uma área na zona rural da sua cidade, com a intenção de construir uma casa para morar e criar pequenos animais, montar uma horta e pomar, jardim, já que era aposentado, e estava cansado de viver na metrópole. Era sozinho, depois que o seu casamento naufragou, além de apreciar bastante a vida mais amena.
Mandou cercar o terreno com alambrado, contratou uma máquina com lâmina para limpar o terreno, além da mão de obra para iniciar a construção.
Ou seja, tratou de executar todos os seus planos. E Iniciou pela limpeza do terreno, todo cheio de pequenos arbustos, cupinzeiros e muita braquiária.
Sr. Pedro, o senhor quer que preserve alguma coisa, ou posso passar a régua geral?
Quero que você poupe somente aqueles dois ipês ali à frente.
Se fosse eu, deixaria aquele cupinzeiro maior, que é ótimo para se fazer um forno à lenha, mas, quem manda é o senhor, né. - sugeriu o dono da máquina.
Ótima ideia, meu caro! Lá em Minas, uma tia minha fez um forno desses, assa todas as suas “quitandas” e carnes nele. Pois é, duas cabeças pensam melhor do que uma, hein?
Foi assim que o cupinzeiro foi salvo da degola, e Pedro começou a pensar numa maneira de aproveitá-lo. Mudou até a disposição da casa a ser construída, de maneira que o tal forno ficasse em sua área de serviços, coberta.
Depois de toda a infraestrutura concluída, inclusive com a instalação de água e luz, iniciou a compra dos materiais necessários à construção, já que os pedreiros iniciariam o trabalho na semana seguinte. Ficou tudo pronto, e a expectativa era grande.
Iniciada a obra, com sala, cozinha, dois quartos, banheiro, área de serviços e garagem, ele foi montando na cabeça a localização do galinheiro, da horta, pomar e o jardim. Passados vinte dias, as paredes levantadas, ia ficando cada vez mais entusiasmado, e imaginando quando estivesse tudo concluído. E isto acabou muito rápido, depois de uns quarenta dias. Tinha mandado fazer também um fogão caipira, que era para colocar o seu futuro forno feito com o tal cupinzeiro.
Porém, o problema foi arranjar alguém que soubesse fazê-lo, e foi preciso que fosse buscar esse alguém lá em Minas, pois não era de desistir das suas ideias facilmente. Encontrou, pagou um preço razoável, buscou e levou-o de volta, mas fez do jeito que queria. E o trem ficou bonito e funcionando direitinho.
No entanto, aconteceu algo que não imaginava: havia um ninho de coruja com dois filhotes no cupim. Um morreu, o outro foi colocado dentro de uma caixa, ele o tratou com pequenos pedaços de carne, até que se tornou adulto, mas não aprendeu a caçar. O bichinho ficava atento aos movimentos de Pedro, entrava dentro de casa, principalmente na hora das refeições. Mais parecia um papagaio, só não falava, tamanha era a sua afeição ao homem, e este lhe deu até um nome: Biro.
Ele conversava com o bicho, lhe fazia afagos, deixava-o bem à vontade para voar, ir e voltar quando quisesse, só ficava bravo quando o Biro fazia as suas sujeiras em qualquer lugar. Aí levava severas broncas. Certo dia, percebeu que o malandro entendia tudo que ele dizia, então, decidiu lhe perguntar. Não esperava nenhuma resposta, mas aconteceu, juro.
Biro, por quê você não procura a sua turma? Eu não sou o seu pai, não, viu?
Olha, patrão, eu não posso falar, mas consigo entender e penetrar na sua mente, sabia? Na verdade, você não quer me ver longe daqui, quer?
E se eu quiser, hein?
Eu já disse que sei tudo sobre os seus sentimentos. - respondeu a ave, olhando no fundo de seus olhos.
Quando Pedro entrava no carro para ir à cidade, ou a qualquer lugar, o bichinho se aboletava no encosto do banco traseiro; se ia tomar banho, lá estava ele apoiado ao cano do chuveiro; se assistia televisão, ficava no encosto de uma cadeira; era no quintal, no mercado, ou em qualquer lugar. Sempre presente e atento.
Palpitou até quando o “patrão” quis arranjar um gato, alegando que poderia ser perigoso para a sua integridade, mas, na verdade queria mesmo era exclusividade para si.
Certa vez, na cidade, ele decidiu entrar num bar para beber, sendo que deixou o bichinho dentro do carro. Lá começou a flertar com uma bela morena, não demorou e já estavam dançando coladinhos. Biro não gostou nada daquilo, e deu um jeito de ir até lá para estragar a festa.
Corre, patrão, que o carro está pegando fogo, hein!
Tudo mentira. Passou-lhe um sermão sobre beber e dirigir, além de alertar que a moça tinha compromisso com outra pessoa, e que aquilo poderia causar confusão. O jeito foi ir embora.
Ou seja, não tinha espaço, e a vigilância da ave era constante. Foi assim que Pedro ficou conhecido pelo apelido de Pedro Coruja.