O VENDEDOR INJUSTIÇADO
Em um dia típico de sua rotina de vendas na praia de Guarajuba, lá ia Gilberto montado de jegue, passando em uma correria danada, debaixo de um calor daqueles de brilhar a testa à luz do sol. Algo em torno de meio-dia, onde naquele horário ele já havia vendido metade dos dois caçuás com cocos verdes, como de costume. Trajado quase completamente de roupa branca, óculos escuro e com uma bainha e facão na cintura, era fácil perceber a habilidade do homem. Volta e meia alguém o chamava no sombreiro pra pedir uma água de coco, e logo menos ele voltava.
E nesse vai e vem de vender coco já eram quase três da tarde, a hora em que Gilberto normalmente voltava com o jegue pra casa. Nessa altura, o comum era ele guiar o animal na parte mais alta da areia, pois como já era de tarde e a maré estava cheia, não era fácil de caminhar na área molhada. Então lá vinha ele pelo seu trajeto, até que teve a ideia de comer o restante da marmita que guardara em um dos caçuás. Oxe, bastou Gilberto abaixar a cabeça em direção ao cesto que em seguida surgiu uma sombra de outro homem, que também em seguida, lhe deu um murro bem no meio da cara.
— "Oxe, oxe, oxe, oxe! Que porra é essa?", esbravejou Gilberto, caído do jegue.
— "Aqui é lugar de você passar, por acaso?", respondeu o homem, como se fosse dono daquele pedaço de terra.
— "Como é?", Gilberto perguntou mais um vez.
— "Aqui é lug...", enquanto o homem rico pensou em completar a frase, lá veio Gilberto que, sem pensar duas vezes, revidou com um soco no queixo.
O murro de Gilberto foi tão forte, mas tão forte, que deixou o rico gaiato estatalado no chão por pelo menos uns 2 minutos. Nesse momento, muita gente se aproximou da cena onde o rapaz, que ao certo tinha o nome de Borges Filho, ficou caído na areia. Porém Gilberto nem esperou tempo ruim, desconfiado que alguém chamasse a polícia e logo voltou pra arrumar seu jegue enquanto disse em tom irônico:
— "Vixe, matei o maluco".
Gildevan Dias:
O Vendedor Injustiçado (Texto 1 de 2).