O MUTIRÃO DA PAMONHA

- Bom dia, seu Nem!

- Muito bom dia a todos! Uai, vocês vieram fazer mutirão aqui? Bem que estou precisando, para fazer silagem pro gado, viu? .... kakakakaka

- Podemos pensar no assunto, mas hoje o que estamos querendo, mesmo, é um pouco de milho para fazermos pamonha e curáu lá na casa do compadre Lázaro. Se o senhor precisar de ajuda com a "fazeção" do silo, estamos aí, né? Tempo ninguém tem sobrando, mas dá-se um jeitinho, sô. - disse Ramiro.

- Conto sempre com vocês, e também colaboro com todos, dentro das minhas fracas possibilidades, considerando-se a minha "vaiiidade", gente! Quanto ao milho, podem pegar o que quiserem na lavoura. Só não gosto quando alguém pega sem pedir, aí eu fico bravo, mesmo! Vocês, não, são honestos e respeitam as propriedades dos outros. Se sobrar alguma pamonha, ou curáu, também estou aceitando doações, hein! .... kakakaka

- Com certeza, seu Nem! Nós até combinamos de convidá-lo para que dê um pulo até lá, para buscar para toda a sua família, tá bom? Podemos pegar uns cinco sacos? No máximo seis ... - ia dizendo o João, quando o fazendeiro o interrompeu.

- Aaaaahhh neeeeemmmm!!! (origen do apelido dele). Peguem mais, o quanto quiserem, uai! Eu sei que vão aproveitar o material, sem desperdícios, ora!

- Isto é verdade, só não aproveitamos o sabugo, seu Nem. ... rsrsrsrs

A turma era constituida por cinco homens, dois mais jovens, dois mais maduros, além do Ambrósio, meio "abobado" (como se dizia na época), mas que tinha muita força para carregar os enormes balaios no meio do milharal. Dependia-se do bom humor dele em algumas situações, porém, para comer pamonha ele fazia qualquer coisa. Desde que fosse tratado como qualquer um deles, porque, não aceitava ordens de ninguém, mas ficava feliz quando alguém lhe pedia alguma coisa com mais cerimônia, principalmente, se fosse uma mulher.

Era assim também na lavoura de café, na época da colheita, quando carregava enormes sacos de café maduro nas costas, subindo ladeiras até chegar ao carreador, de onde eram levados para o terreiro de secagem, em carros de bois.

Disso ele gostava, só não gostava de trabalhar com qualquer tipo de ferramenta, como capinar e bater pasto, ou fazer lenha. Outra coisa de que gostava, e muito, era comer em grandes quantidades, por exemplo, uma lata de sardinha de 500 gr. com farinha de mandioca, ou um litro de melado de engenho com queijo ralado e farinha de milho, chupar quatro duzias de laranjas numa sentada só. Nas refeições, preferia uma cuia feita de cabaça das grandes, que era para não perder tempo com repetições, creio que devorava bem mais do que um quilo de cada vez. Agora, o que mais o alegrava era o tempo das mangas, aquelas espadas grandonas, suculentas e gostosas, mas também servia as sabinas ou comuns, ou seja, qualquer uma, desde que em grande quantidade, já que não perdia tempo em consumir "só" cinco ou seis, não. Em geral, pegava um balde velho, daqueles usados para se tirar leite, enchia e levava para uma sombra qualquer, e alí degustava tudo, calmamente.

Pois bem, os outros quatro pamonheiros pegavam o milho no pé, colocando-o em sacos que iam arrastando pela lavoura, enquanto que o "aluado" do Ambrósio ia levando-os, cheios, até a caminhonete. Acabaram colhendo aproximadamente uns dez sacos dos grandes, pois, como se sabe, não é sempre que se encontrava daquelas grandes lavouras naquela região das Minas Gerais, então, o negócio era aproveitar a viagem.

Na fazenda do Lázaro já estavam umas trinta pessoas, sem contar as crianças. Haviam se reunido vizinhos e parentes da redondeza toda, o que era normal nessas ocasiões. Então, as tarefas eram divididas conforme a capacidade de cada um.

- Eu faço questão de temperar tudo junto, para que não fique nada desigual. Aqui, quem manda sou eu, a mais velha de todos, né! - brincou Dª Terezinha, mãe do anfitrião e já beirando os oitenta anos.

- Nós todas concordamos, claro, mas a gente só acha que a senhora deveria preparar uma sucessora para o futuro, concorda? - sugeriu Luzia, uma das mais novas do grupo de mulheres.

- Eu, hein! Tudo bem, já não sou mais nenhuma moça, e faz bastante tempo, só que ainda vou "enterrar" muita gente boa, viu menina? Tá certa, eu te dou toda razão, precisamos escolher outra, sim, por via das dúvidas, pois não se sabe até quando vou chegar, né? Para você, Luzia, ainda é muito cedo para assumir tal responsabilidade, então, eu escolho a Isabel para aprender a arte de se temperar uma pamonha. Você aceita, Isabel?

- Será um grande prazer, Dª Terezinha! - concordou Isabel

- Então, continuando: o Fernando, o Juarez e o Zezé ficam sendo os cortadores das espigas; o Jair, o Cido e o Nego retiram as palhas com muito cuidado, para rasgá-las o mínimo possível; A Cinira, a Geni e a Lourdes limpam o cabelo das espigas e quebram as pontas do sabugo; o Joel, o Vaz, o Mário e o Tonho são os nossos raladores; nos tachos ficam a Norma, a Sueli, o Mozart e o Juca; O Tião e o Carlos cuidam da lenha e do fogo; eu e a Isabel temperamos; a Divina e a Joana preparam as palhas e as linhas para amarração; a Creusa, a Maria e a Irani fazem as sacolas a serem enchidas com a maça; a Neusa, o João, Gilberto e a

Sônia envelopam; a Maura e a Luzia amarram as peças, que são colocadas na peneira, para irem ao fogo. Já o nosso querido Ambrósio fica encarregado de levar os sabugos e as palhas que sobrarem para o mangueirão. Tudo certo, gente?

- Já vi tudo, eu e a comadre Anália ficamos na cozinha, fazendo o almoço, né gente! Só isto que nos resta, já que não fomos escolhidas para nenhuma outra atividade, tá certo dª Terezinha? - falou Vilma, a dona da casa

- Ah, sim, com certeza! Não reclame, que isto é praxe, meu bem! .... rsrsrs

- Ainda não sobrou nada para nós fazermos! Que bom, hein Dito? - disse Malvina ao namorado.

- Ah tá, vocês que pensam! Quem é que vai cuidar dessa criançada toda? - replicou dª Terezinha.

- Viiiiiiiirgeeeeeeee!!! A senhora tem razão, vamos ter que inventar alguma coisa para que elas não atrapalhem, né? - concordou Dito.

- Molecadaaaaaaaaaa, todo mundo para o poção, tá bom??? - comandou Malvina, com alegria

Todos tinham atividades, sendo que o Lázaro era o encarregado de contar piadas e causos ao grupo, no que era exímio. A velha Terezinha sabia muito bem como comandar aquela turma, e todos a respeitavam.

Ainda antes do almoço já saíram as primeiras pamonhas, bem como generosas gamelas com curáu, mas era costume comer aqueles quitutes somente após as refeições, ou na hora da merenda. Tudo saboroso demais, as pessoas comiam até se sentirem saciadas, mesmo porquê, não havia geladeiras para conservar nada, de forma que havia a necessidade de consumo imediato.

Por volta das quatro da tarde chegou o seu Nem com a família, aliás justíssimo que assim fosse, já que o fazendeiro tinha fornecido a matéria prima principal, sendo que as outras "coisas" foram rateadas entre os outros fazendeiros. E este resolveu provocar a gula do Ambrósio, desafiando-o para que comesse mais unidades do que três homens adultos juntos. Havia homens ali que eram considerados bons garfos, porém, o rapaz venceu a todos, consumindo dezesseis pamonhas, o

triplo mais uma.

- Se tiver um curalzinho para sobremesa, pode mandar vir, que ainda sobrou um cantinho do meu estômago, viu? - zombou o comilão

Ronaldo Jose
Enviado por Ronaldo Jose em 21/04/2022
Código do texto: T7499945
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