Às vezes a gente não entende o porquê de certos fenômenos naturais e em vez de aceitar os fatos ficamos procurando ou criando explicações mirabolantes para tudo. O problema é quando essas explicações sem fundamentos não convencem a ninguém, a não ser do fato de que existem a História e as estórias de pescador.

E para exemplificar o que afirmei, trago para vocês mais uma pérola do Burro. Acreditem se puderem...

 

A carga de sal

 

     Segundo o Sr. José Francisco Mazê - um velho pescador popularmente conhecido como Burro na região das praias sergipanas e é assim que gosta de ser chamado pelos amigos, que são muitos - antes da Revolta dos marinheiros em 1910, as águas do Rio Real na região do povoado Terra Caída eram doces como água de coco, mas um acidente naval que aconteceu entre a povoação e a ilha de Mangue seco mudaria essa condição fluvial para sempre.

 

     De acordo com o pescador, no evento ocorrido, um navio cargueiro que adentrara no litoral sergipano encalhou nas águas rasas da maré e ali mesmo ficou, deixando marcas até hoje no local onde o sinistro ocorreu. E o que pouca gente sabe, apesar de Burro alardear com muito orgulho, é que o tal navio cargueiro pertencia à frota italiana e estava sob as ordens do comandante Mazê que, segundo o pescador e contador de estórias, seria o seu avô europeu.

 

     O tal navio mercante italiano navegava carregado de sal em direção ao porto baiano onde desembarcaria parte da carga e seguiria viagem em outras rotas comerciais, mas acabou sendo avariado nas proximidades da Praia do Saco no território estanciano.

 

     Segundo o pescador, o navio mercante fora alvejado por um patrulheiro da marinha amotinada ainda em mar aberto mas devido a destreza do comandante Mazê, os marinheiros conseguiram levar o cargueiro até a praia e de lá tentaram se esconder navegando em águas rasas rio adentro indo em direção à pequena ilha onde hoje fica o ponto turístico chamado de Mangue Seco.

 

     Mas antes de alcançar o objetivo de aportar para conseguir ajuda e consertar o casco, a embarcação encalhou e com o vento forte acabou tombando ali mesmo e, assim, o destino teceu a história do jovem comerciante italiano que acabou formando família na localidade e consequentemente trazendo transformações importantes para a região. Mas a principal mudança mesmo, segundo o suposto neto, foi a que se deu nas águas do Rio Real, pois, sem poder contar com um serviço de reparo para o casco avariado do navio, o Comandante Mazê não pôde impedir que este deitasse a carga completa de sal no leito corrente e muito menos que a mesma se diluísse completamente salgando para sempre as águas do grande rio.

 

Afinal, tem coisas que um mortal não pode evitar quando a roda da fortuna gira e a cornucópia entorna...

Podem desta saírem flores ou pérolas... 

Vai saber?

 

 

Adriribeiro/@adri.poesias

 

 

 

 

Obs. Imagem da internet meramente ilustrativa. 

 

Adriribeiro
Enviado por Adriribeiro em 15/04/2022
Reeditado em 16/04/2022
Código do texto: T7496029
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