MOMENTO CINDERELA
Estávamos no segundo grau, porém não lembro com certeza nossa idade. Devíamos ter 15 ou 16 anos. Minha amiga Sônia e eu íamos à mesma escola e estávamos na mesma classe. Éramos “unha e carne” como se diz popularmente. Além da escola, frequentávamos as casas uma da outra e, nos finais de semana, não perdíamos a matinée do cinema, juntas.
Certa vez, Sônia comprou um par de botinhas de couro na cor azul, com detalhes em cinza, de cano curto e com um salto de uns 3 centímetros. Nada excepcional, não fossem os saltos finos de metal. Tinham uma proteção nas pontas o que não evitava que produzissem barulho no calçamento da rua, nas lajotas das calçadas e nos pisos de madeira.
Eu, como a maioria das garotas daquela idade, era ligada em moda, vaidosa e louca por novidades. Quando me deparei com as botinhas da amiga, quis logo ter iguais e não dei sossego ao meu pai até conseguir dinheiro para comprar as minhas. Fui, imediatamente, à loja de calçados, de nome sugestivo: Cinderela, onde adquiri meu par.
Hoje, vendo a cena de uma perspectiva diferente e com muito mais idade, acho bem tola minha atitude porém, na época, fiquei contente. Como disse antes, os saltos faziam um barulho danado e se enfiavam entre as pedras do calçamento da rua, além de me exigirem verdadeiro malabarismo para me equilibrar sobre eles. Entretanto, nada disso apagou minha alegria. Em casa estraguei o piso de madeira deixando furinhos por onde pisei. Além disso, tinha que evitar usar minha nova aquisição quando saia com a Sônia usando um calçado igual ao dela.
Hoje, não compraria e nem usaria aquele par de botas e até acho um absurdo ter desejado algo igual ao da amiga, que não deve ter gostado de minha atitude. Imagino que até me chamou de invejosa...
Logo, me cansei daquelas botas que não eram nada confortáveis, perdi o interesse e nem sei que destino dei a elas.
Enfim, somos jovens apenas uma vez e quem não cometeu alguma estupidez naquela idade?