BUSCANDO UMA LIBERDADE

 

 

Eu sempre quis fazer uma referencia às coisas que sejam relevantes e envolva uma cultura diferenciada, principalmente que tenham a natureza, como pano de fundo, mas que também tenham componentes que envolvam saúde e respeito mútuo. Eu pretendia conhecer uma área de naturistas, só conhecer. Como eu vivo no Rio Grande do Sul, achei que a melhor idéia seria visitar a maior vila naturista da América do Sul, chamado de Colina do Sol, situada em Taquara/RS.

 

Convidei a Iara, minha esposa, para me acompanhar nesta minha curiosidade. De jeito nenhum, jamais vou ficar nua na frente das pessoas. Então eu lhe expliquei que se nós fossemos somente para conhecer, não teríamos a necessidade de tirarmos à roupa. Então ela falou: vai somente tu e depois me conta da tua aventura. Isto demonstra a confiança que temos um pelo outro. Como realmente eu estava decidido, resolvi ir de moto, apanhei meu capacete, coloquei as botas, casaco de couro, luvas e quando eu estava montando na moto estilo custom, fazendo aquele motor de sessenta e poucos HP roncarem para aquecer os dois cilindros em V. A Iara veio correndo e me disse: espere por mim, estou resolvida, vou junto contigo, mas nada de tirar a roupa. É só uma curiosidade: claro é só uma curiosidade.

 

E lá fomos os dois de moto com um destino ainda incomum para nós, rumando para a Colina do Sol.

 

Após nos perdermos, pois eu não sabia o endereço correto. Tivemos que percorrer uma forte subida escamoteada no alto de uma colina, que é chamada de Morro da Pedra. Subimos pela entrada antiga, por uma estrada íngreme, e com muitos valos no seu percurso. Não podia parar a moto com medo de cair e continuei acelerando, até chegarmos a entrada principal, onde uma senhora sempre cortes nos atendeu, nos deu todas as informações, tivemos que apresentar nossas credenciais, preencher ficha de visitante, e recebemos uma relação com os itens de segurança e éticas disciplinares. Depois ela antão ligou para a central de atendimentos onde as pessoas ligadas à direção, estariam nos esperando. Ao chegarmos a central com a nossa moto Yamaha virago 750 cc, que chamou a atenção das pessoas, presentes.

 

Olha o só o susto que levamos, era no mês de Fevereiro, e estavam todos os presentes nus. E agora ou voltamos daqui, e não continuaremos, pois não poderíamos seguir com roupas aos demais espaços. Como o atendimento foi muito bom pelos atendentes, envolvidas de pessoas adultas, com família e muitos com filhos pequenos, sentimos que estávamos bem identificados com as pessoas ali presentes.

 

O respeito entre as pessoas era muito mais notável do que a gente imaginava. Então falei para a Iara, já que era para conhecermos, vamos continuar, e sentir bem o ambiente, com a nossa aventura, já que vai ser uma única vez. E se ficarmos com roupa, além das restrições a onde estávamos, iríamos chamar mais a atenção dos demais que estavam todos nus. Então falei para a Iara: topa tirar a roupa? Ela ficou pensativa, mas vendo que nós é que estávamos diferentes, me falou: sim já que entramos na briga, vamos encarar.

 

Perguntei a uma atendente, onde trocamos de roupa. Ela riu e nos disse: vocês não vão trocar de roupa: vão tirá-las, e pode ser aqui mesmo. E lá foram as nossas roupas por cima da moto, que ficou com as nossas roupas, e nós sem. Assim começamos a usufruir de uma idéia diferente, num lugar diferente. Um desafio que não imaginávamos que fossemos ter coragem de enfrentar.

 

Despidos nós ficamos igual aos outros, e ninguém ficou olhando para nós, e vimos que era um lugar distinto do que imaginávamos, e de que a maioria assim imagina. Foi designado para nos acompanhar, e mostrar todas as belezas do local, uma mulher muito bonita chamada Carina Moreschi, que já foi capa de revista, e hoje é formada em jornalismo, e considerada uma grande divulgadora do naturismo em caráter nacional e internacional.

 

Ficamos extasiados com um local tão bonito, com muita mata nativa, em fim tudo ali era bonito. Passamos um dia de glória pela nossa escolha, conseguimos vencer tabus, conhecer um lado que muita gente jamais pensa em conhecer pela sua cultura, pela imposição de dogmas, e religiões, mas nós conseguimos.

 

Demos o nosso PRIMEIRO SALTO PARA UM TIPO DE LIBERDADE SAUDÁVEL. Não tínhamos idéia de voltar, mas voltamos mais uma vez, e depois outra vez, e acabamos sendo naturistas com muito orgulho, desde Fevereiro de 2001. E posso dizer com clareza que a nossa vida tem o antes e depois da Colina, e os melhores momentos da nossa vida foram passados ali.

 

 

 

Primeiramente nós nos hospedávamos no camping da Colina onde ficamos por dois anos, e depois alugamos uma casa por um ano direto, e desde 1995 mandamos construir a nossa cabana, de acordo com o nosso gosto, e no lugar que para nós é o mais lindo da Colina, mas de acordo com o meu vizinho de cabana, ele diz que o lugar para ser o mais lindo do planeta, é somente uma questão de tempo. Ali estamos há vinte anos quando em 202

 

São neste lago, que os peixes, principalmente as carpas vermelhas dão o seu espetáculo saltando sobre a água para pegar alguns insetos. Os pássaros de várias espécies, que cantam e dão aqueles vôos planados enfeitando as matas e o céu, que chegam a poucos metros de nós. Nesses revoar dos pássaros demonstrando todas as suas façanhas de liberdade, que possuem pelo dom de voar, vemos os Tucanos com aqueles bicos que parecem em desproporção, com o seu próprio tamanho e que cantam de uma forma intimidadora.

 

O Surucuá de barriga vermelha com sua plumagem que é contrastado pelo o azul, é considerado uma ave de grande beleza pelo seu colorido. As Aracuâns que tem um canto de elevado som acústico que ecoam em quase toda a imensidão da Colina. As Sara-Cura e Galinhas do mato que andam de um lado para outro rente ao lago, dando seus vôos rasantes. Vimos os Papagaios, Pica Paus, Corujas, Gaviões, Quero-queros e tantos pássaros, que compõem um grandioso viveiro, ao ar livre, onde eles realmente cantam e vivem com toda a sua plenitude.

 

Contemplamos também os vôos erráticos das borboletas, executando uma dança sem saber para onde vão, mas que com certeza devem estar aproveitando o máximo da sua permanência, por saberem que suas vidas são efêmeras. No horário do ocaso, admiramos os raios do sol penetrando entre as árvores, dando uma iluminação que só o astro rei consegue fazê-lo, com uma cor própria e forte, que vai diminuindo, e finalmente se esconde no horizonte, lançando a Colina nas sombras, até cair à noite, quando o céu de agiganta, e podemos contemplar as lindas estrelas, livres, deixando a noite mais misteriosa.

 

Então as fotos células fazem acender as lâmpadas de uma forma atenuada, para não interferirem nas vidas animais, na ilha, arredores do lago, e da praça, dando um contraste com o silêncio da noite, e nós aconchegados na nossa cabana, ficamos ali por um grande tempo, admirando e imaginando toda aquela beleza, de luzes combinando com a natureza as escuras, e vendo como o mundo simples é lindo, e as coisas boas estão bem próximo a nós, e de uma forma de dádiva.

 

Para quebrar, o silêncio da noite, os sapos ficam contentes com o escurecer, e começam os seus cantos que parecem combinar com a natureza, como se estivessem se despedindo do dia, e louvando a noite. É mais um show a parte.

 

Para fazer jus a todo o espetáculo que visualizamos, mandamos construir a nossa cabana como se fosse um palco. Escolhemos uma forma artesanal, com uma lareira romântica como é a vida da natureza ali presente.

 

A sua construção foi elaborada com as pedras encontradas na própria região da Colina, que dão um charme rústico e aconchegante, e que tem uma combinação com o que a rodeiam.

 

A nossa cabana tem janelas envidraçadas em toda a sua volta, para fazer com que a parte externa invada a intimidade dela. Assim como nós também possamos mesmo dentro da cabana, participar visualmente do show representado pela natureza.

 

Como é contemplador, eu e a minha esposa Iara estarmos acomodados no deck da nossa cabana, assistindo aquele show de harmonia de uma parte da vida do nosso planeta, que é incomparável aos shows montados pela tecnologia humana. É um espetáculo que se altera e que apreciamos e vivemos a 20 anos, apostando numa estimativa de vida mais harmoniosa e longeva. Este é o espírito naturista.

 

Numa das várias entrevista que fizeram com pessoas que convivem na colina, foi perguntado a um deles: O que ele achava dos momentos vividos na Colina. – Eu acho que se é verdade de que quando a gente morre vai para um lugar muito especial, e posso dizer que viver na Colina, não sentirá tanta diferença.

 

 

Scaramouche
Enviado por Scaramouche em 14/04/2022
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