Furos acima...
O Sinhozinho tentara a política em Pitangui, MG, mas os votos não lhe vieram, malgrado uma certa popularidade e aquela parecença quase visceral com a personagem imortal de Péricles, de O Cruzeiro, como o Amigo da Onça. O insucesso eleitoral a uma cadeira na edilidade municipal talvez se devesse ao fato de o Sinhozinho constar na cédula eleitoral tão-somente e tão-semente, com o nome de pia, que se me não falha a memória já de sessenta anos, era Amado Jesus de Oliveira...
Mas o Sinhozinho não se deu por vencido, ou convencido. Magoado prometeu retornar em estilo, aprendida a lição amarga da inexperiência, ou da "mardade política" como se cochichava e se conchavava por lá...e alhures. Só que não deu. Um infarto fulminante o colheu em pleno banho de bacia, para o espanto e pranto da vizinhança de seu Beco dos Canudos, e de sua querida irmã Maria, Benedita, de vocação e pia.
Mas um pouco antes de sua partida, mano Beu pode haurir um pouco da sapiência daquele homúnculo, e compartilhá-lo conosco. Mamãe, ali só um beco mais acima, o havia mandado comprar umas folhas de taioba do indigitado Sinhozinho, que cultivava sua hortinha com o desvelo com que se cuida de uma rachadinha.
Para levar a folhagem Beu carregava consigo uma escorredeira de macarrão, novidade em nossa morada, que ainda tinia de alumínico brilho... Mal recebeu a encomenda das expertas e delicadas mãos de Sinhozinho, Beu ouviu, embaralhado, a exclamação de Maria Benedita, operária fabril, sempre muito curiosa e de língua solta:
- Ih, óia lá, Nhozim, a panela dele tá toda furada...!!!
Ao que Sinhozinho respondeu incontinenti, presto e esclarecedor:
- Bobage, Maria. Isso é panela de gente rica...!