A ORAÇÃO DA MEIA-NOITE

Georgina e Janeide eram duas jovens irmãs tão distantes uma da outra, pareciam duas estranhas. Tudo por causa de Georgina, que se achava a mais bonita e via na irmã uma menina boboca, tapada. Aquela, a mais velha, ridicularizava esta, a mais nova. Janeide tinha um bom pensamento, era prendada, amava cozinhar. Enquanto Georgina era uma jovem da " pá virada", amante das madrugadas, das festas, de namorar um e outro. Ela não amava, usava os rapazes e até os coroas. Conheceu, certa vez, um senhor sessentão no forró do bar do Ailton, em Duque de Caxias, município que abriga grande número de nordestino no Rio de Janeiro.

Georgina não brilhava como sua irmã, pois para alcançar seus objetivos usava de meios ilícitos.

Janeide era pura, Georgina suja.

Por isso não brilhava. Amava descumprir os princípios, e por isso não é preciso dizer que o seu fim seria trágico. Georgina, vinte e três anos, excelente forrozeira. Janeide, dezenove anos, era amiga da natureza, do amor e jovem recatada, meiga sem ser melosa.

Com seu jeito provocante, dançando sensualmente Georgina hipnotizava os homens. O tal coroa, Seu Clébio, ficava de queixo caído, babava pela morena.

A jovem já chegava no forró toda se achando, tirando onda. Georgina tinha um borogodó, um charme todo especial, que deixava no chinelo as outras garotas. Todo este ar de carinho, este charme era tudo fantasia, pois na realidade era dissimulada, perversa.

Só que Georgina era uma vilã meio atrapalhada, era afoita, não tinha paciência para arquitetar planos. Ela viu, bateu o olho no coroa cheio da nota e já quis fisgá-lo. Clébio viu a jovem e dispensou as outras mulheres. Parecia que no forró só havia Georgina. Ele até esqueceu que era casado e tinha um filho da idade de sua musa dançarina.

Georgina gostava de se divertir, até aí não há nada de errado. Muitas pessoas levam a vida como se levassem um fardo pesado nas costas. A alegria, fazer amizades sadias, dançar, ter um momento de lazer... Isso tudo é benéfico! Pois quem restringe a vida só em trabalhar, estudar, ganhar dinheiro não desfruta a vida, seca e entristece a alma aprisionado e enlouquecido pela fissura nas coisas materiais, coisas que são passageiras. Dessa vida não levamos nada!

A questão é que Georgina tinha uma alma doente. Muitos diziam que era safadeza. Os amigos, vizinhos, os parentes... Todos alertavam a jovem para que mudasse de estilo de vida. Janeide dizia que a solução não estava em alertar a irmã, mas orar, entregar para Deus ( não no sentido de cruzar os braços, se acomodar, e deixar de mão como quem quer se livrar de um problema, de um peso. Não! Entregar para Deus é confiar que a obra de transformação partirá Dele. E cabe a nós perseveramos na oração, confiarmos. )

Janeide acreditava na mudança da irmã, mesmo com tudo contrariando suas expectativas.

Perto de meia-noite, Janeide se preparava para ligar o rádio e orar junto com o pastor. Lá fora a chuva forte, e também a chuva de lágrimas dos que andam perdidos, dos que sucumbiram à oferta da noite: a ilusão, a armadilha do prazer para fugir da tristeza, da solidão. Apenas alguns minutos se sentindo um rei ou uma rainha. Georgina fez Clébio se sentir um rei. Engabelou o velho que não resistiu à tentação de receber carinhos de uma novinha.

Foram beijos, carícias por todo o corpo, corpos em brasa.

A fogueira do desejo acesa , o prazer inconsequente... Clébio esqueceu da vida, não tinha mais vida pois escolheu a ilusão.

Voltou pra casa sem nenhum tostão. Escreveu seu nome no livro da vergonha. Vergonha de mentir, trair, deixar ser usado. Vergonha de ser um chefe de família só de fachada.

Pois a irresponsabilidade, que é comum para alguns jovens , o alcançou. Georgina, como uma fera, pulou em seu corpo.

Quase que ele teve um infarto.

Mas soube segurar a onda. Só que ele não contava com um tsunami: A descoberta da sua traição, o inferno de jogar no lixo anos e mais anos de casamento.

Georgina não estava nem aí. Ela nem precisava disfarçar, ela era cara de pau. Ela era quem acendia a fogueira. O mal ( também a sem vergonhice dela ) a fazia propagar discórdias, semear desgraças, fazer absurdos pra ter dinheiro, ser o centro das atenções.

Janeide orava, não deixava a tristeza interferir na sua comunhão com Deus. Ficar triste é uma coisa, ser dominado pela tristeza é outra. Ser dominado é ter algo ou alguém com seu senhor. Não devemos permitir que nada e ninguém tome o lugar de Deus em nossas vidas.

Janeide era fervorosa, mansa, amiga, destratava ficar mal com as pessoas. Mas não fingia ser uma coisa para agradar quem quer que fosse. Sua vida era para agradar a Deus.

Durante sua infância e adolescência discutia muito com sua irmã. Janeide sempre era quem encerrava as discussões. Pedia perdão para a irmã, mesmo que fosse Georgina a culpada.

Janeide era de paz. Mas foi crescendo e aprendendo a não mais se anular. Ter paz não é se anular. Janeide abriu mão de um rapaz que gostava, pois não queria ficar mais disputando-o com a irmã. Mesmo sabendo que Georgina não tinha boas intenções com Silvano, não quis insistir para ser a namorada do jovem. Silvano ficou com Georgina, pois não tinha maturidade para escolher uma companheira. Mais uma vez a ilusão da facilidade rouba a alma. O que é fácil, o que não precisa ser conquistado é bom somente no início. Depois, o vazio de não ter lutado enfraquece a relação.

Tristeza no coração!

A força e a coragem se afloram na dificuldade. É muito bom lutar para conquistar quem a gente ama.

Também se anular é deixar passar uma oportunidade.

A vida é feita de oportunidades. Janeide aprendeu essa lição!

Cresceu espiritualmente.

Graças a Deus!

Ela dá graças por ter aprendido que tem valor e só quer ao seu lado alguém que também tenha valor. Silvano não era um rapaz ideal para ela. Silvano aceitou o que era mais fácil. Uma pessoa que tem valor jamais se nega a lutar. Pois a alma que tem valor é uma alma guerreira.

Silvano casou com Georgina e se decepcionou. Quis se separar para engatar um relacionamento com Janeide, mas recebeu um NÃO!

Silvano e Georgina foram casados por dez anos. Para Silvano foi como se tivesse sido casado por cem anos. Uma vida arrastada, sofrida... Georgina fazendo o que bem entende, levando uma vida de mulher solteira e Silvano aguentando a dor de cabeça, e também sua voz não valia de nada. Georgina xingava e esculhambava o marido.

Silvano só valia para Georgina o dinheiro que tinha na conta bancária.

Georgina só se separou de Silvano quando este foi demitido juntamente com trezentos funcionários da empresa do ramo de movelaria. A crise na empresa , que foi a bancarrota, gerou o corte de funcionários.

Georgina vendo que a fonte secou e que não tinha quem mantivesse os seus luxos, optou pela separação. Após a separação largou a máscara de mulher casada e foi viver a realidade, a triste realidade de mulher da noite.

Janeide ora para Deus fazer uma transformação na vida de Georgina. Pede a Deus que a irmã venha para a luz, aceite a verdadeira vida, a vida que só com Deus é que temos. Que Georgina venha para a luz, e deixe as trevas, a noite da ilusão e solidão.

Janeide perseverou, mostrou para Deus que queria muito ver a conversão da irmã. Fez propósitos, foi para o altar, clamou, clamou. Então, Deus honrou sua fé, e o que aos olhos humanos era um caso perdido hoje é um testemunho vivo da gloria e poder de Deus. Georgina foi transformada, é uma nova mulher. Janeide e Georgina, duas irmãs unidas, duas mulheres de Deus.

( Autor: Poeta Alexsandre Soares de Lima )

Poeta Alexsandre Soares
Enviado por Poeta Alexsandre Soares em 04/04/2022
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