O Cabresto
Papai! Para quê
Aquele cabresto na parede?
Antigo como ele só
Todo empoeirado
E ao lado do retrato
Da minha querida avó?
Escuta meu filho amado:
Aquele cabresto é relíquia do tempo
Que seu avô com muito gosto
De lembrança me deixou
É uma herança suada
Do seu falecido bisavô.
Com ele seguiu a estrada
Campos, vales e plantações
No pescoço do belo cavalo
Por nome de “Diamante”
Seu pelo brilhava no escuro
Em todos os horizontes.
De couro forte e curtido
Fivela de prata apurada
Que segurava o rojão
Com este cabresto o “Diamante”
Tocava o engenho e campeava
E levava pra cidade o resumo da plantação.
Ao me levar pra escola
Assim dizia o meu pai:
- Sigura bem a réidia
Pa mode ajustá a Facêra
A criação arrispirá cum leveza
Sem rejeitiá a fucinhêra.
Este cabresto fala tudo, meu filho
É aonde as palavras ressoam
O vento lapidando o sentimento
Que na estrada da vida ecoa
Quem guarda as boas lembranças
Mergulha nas coisas boas.
“Diamante” morreu com o tempo
E foi enterrado ao pé da serra
Seu avô teve um grande desgosto
Por perder seu fiel alazão
Amigo pra toda hora
Com chuva, sol ou cerração.
Quando fui pra faculdade
Com o sonho de ser doutor
Papai, mamãe e o irmão Zeca
Naquela velha porteira
Ali eu deixava o paraíso
Amor para a vida inteira.
Formei-me como sonhava
Com o suar dos meus velhos
Aquele cabresto surrado
Que sustentou a labuta
Junto com ele o cavalo
Dono de uma força bruta.
Passaram-se alguns anos
Meu velho pai faleceu
Seu avô era um grande guerreiro
Que o bom Deus me deu
Foi enterrado ao lado do “Diamante”
Um dos grandes amigos seu.
Ao pé da Serra do Sol
Os dois corpos se encontram
Ali selou a saga
Com aquele eterno descanso
Uma trajetória feliz
Almas no doce remanso.
Nas noites de lua clara
Ouve-se o relinchar do “Diamante”
Na certa o meu pai está ao lado
Com seu sorriso a desfrutar
A terra estremece feliz
E o meu pai a recordar.
E também será com ele
Que você formará em doutor
Meu pai me deu o cabresto
Mas, não me deu o cavalo
Comprei um com meu suor
Pra dar valor no trabalho.
Quando tiveres um filho
Mostre a ele o cabresto
E fale do seu velho avô
Onde tudo começou
Meu neto vai ficar orgulhoso
Com esta história de amor.
Este cabresto é um tesouro
Que fez valer a labuta
De geração a geração
É mais um fato verdadeiro
Neste sertão mineiro
Meu pedacinho chão!