O ASSALTO
Morávamos no Bairro Hugo Lange, em Curitiba, há pouco tempo. Não havia nenhum supermercado por perto e toda manhã alguém da família ia até uma pequena mercearia, localizada a uma quadra de casa, para comprar pão e leite.
No dia que vou descrever, mamãe pegou uma sacola de pano, sua pequena carteira e saiu pelos fundos em direção ao comércio. Lá chegando, encontrou alguns fregueses em uma pequena fila. Quando chegou sua vez, pediu alguns pães e dois sacos de leite. Ao pagar, exibiu uma nota que imagino ser equivalente a R$100,00 hoje (não lembro mais qual era a moeda da época, porém o valor era relativamente alto para comprar coisas baratas). O dono da mercearia deu-lhe o troco, um maço de notas menores, que ela colocou na carteira e saiu em direção ao lar.
Andara alguns poucos metros quando sentiu que alguém lhe segurava fortemente o braço. Era um jovem que ela vira na padaria e que lhe deu voz de assalto, exigindo o dinheiro.
Mamãe reagiu, segurando fortemente a carteira e tentando apressar o passo. O moço, irritado, segurou seu braço com mais força e torceu-o fazendo com que ela deixasse cair a carteira. Ele, então, pegou-a e saiu em desabalada carreira. Mamãe chegou em casa chorando. Seu braço estava ferido em alguns pontos e apresentava grandes hematomas na altura do pulso e do cotovelo.
Foi o primeiro ato de violência que sofremos em Curitiba, em um tempo em que a cidade ainda era muito segura, idos de 1970. Nossa casa não tinha grades, nem muros altos e deixávamos portas e janelas abertas, roupa pendurada no varal, no quintal, e o botijão de gás fora da casa.
Papai levou mamãe ao pronto socorro para exames e medicação. Felizmente não houve nenhuma fratura e logo ela se recuperou das lesões físicas, entretanto, houve um abalo emocional que a marcou.
De lá para cá, muita coisa mudou. A violência, para pior. Hoje vivemos atrás de grades, com medo, sempre alertas. Nada diferente de outras capitas brasileiras e até de cidades menores. Uma lástima que seja assim.