Pra que ria o Zé Maria...
Entrado nos sessenta , o Zé Maria, que já foi um touro de resiliência e um boi da carga de paciência, anda com uns perregues na saúde, agravados pela inércia do leito e pela falta do combustível etilico, seu companheiro desde a tenra adolescência.
Zé nunca negou trabalho. Nem fogo, pra completar o jogo. Passou longos anos na fábrica de tecidos, mais uns outros na carvoeira, e num leque amplo e variado de funções adjutórias, sempre com boa-vontade, extraordinária força, bom humor, honestidade e gratidão, por trás daquele seus olhos azuis, de alemão.
Dia desses, mana Titila, nos seus intermináveis afazeres de reconstituições históricas, imiscuidas no seu magistério de Filosofia na UFMG, impossibilitada de comparecer in loco - isto é, Pitangui ...logo aqui, e tão distante de tudo ali... - enviou-nos uma fotografia cinquentenária, de escassa nitidez, tomada no chão da Cetepense, a Cia de Tecidos Pitanguiense, em que papai, e o Zé, noviço no pedaço, e ainda mais no viço de seu traço, aparecem lado a lado, cercados do maquinário têxtil...e Titila pede a identicação de toda aquela aparatagem...para ontem, como soem ser seus pedidos e clamores...
Mano Nacho exibe a foto a mamãe, que teve seus trinta anos de "...fapa"... mas ela, que tem memória mais que kodak, acha melhor ideia submeter ao teste o próprio Zé, como exercicio de memória, elemento essencial para a recuperação psicológica após uma prolongada hospitalização. E é o que Nacho faz, enviando a foto à Neide, companheira do Zé, zelosa, e de fé.
Minutos depois é Neide que retorna a chamada:
- Ih, ´enato, não deu não...o Zé não conseguiu reconhecer nem ele mesmo...
PS: E não é que o tempo passou e o Zé, mais que a memória…todo afeto recuperou…?