Histórias de pescador 1: As cordas de camarões
No Povoado Terra Caída, pertencente ao Município de Indiaroba/SE, vive um famoso contador de estórias, com quem a minha família fez amizade logo após o casamento da nossa filha mais velha. É o exímio pescador chamado José Francisco Mazê, mais conhecido na comunidade como Burro.
(Apelido que ostenta com grande senso de humor, diga-se de passagem).
Burro é uma figura icônica na povoação litorânea mencionada e uma pessoa tão querida por todos que recentemente teve a rua onde mora nomeada em sua homenagem. A mesma passou a ser chamada "Beco Toma Burro" (expressão que usa nas resenhas e pilhérias com os amigos).
Casado com a Dona Regina, que ele faz questão de chamar de Regina Duarte, há quase cinquenta anos, é um amado pai de família e um homem da maré. Um eficiente condutor de canoas e lanchas para os mais diversos serviços nas águas do Rio Real e da praia do Saco, atualmente com mais de setenta anos de e, como tal, cheio de estórias e histórias.
Dia desses nos contou com seu jeito prosista que vivia convidando a esposa para dar um passeio de barco, mas esta sempre recusava dizendo que não tinha paciência para passear numa canoa à remo, pois demorava demais.
Burro então fez um esforço e com suas economias conseguiu comprar um motor de segunda mão e instalar no barco. Convidou novamente a sua Regina Duarte para passear e dessa vez ela aceitou.
Sairam de Terra Caída em direção à Praia do Saco e de início o motor arrancou com toda potência que tinha e se manteve bem até o meio do trajeto quando começou a apresentar uma perda de força e a canoa começar a dar ré.
Navegante experiente, Burro desligou o motor e foi verificar na popa do barco se o motor estava vazando o combustível ou se havia quebrado alguma peça. Mas ali estava tudo aparentemente normal.
Enquanto isso a Dona Regina reclamava: ___ Eu sabia que isso não ia dar certo. Não sei onde estava com a cabeça quando saí da minha casa pra lhe acompanhar nessa maluquice.
___ Hum! Bem que eu não queria vir!
Sem prestar atenção nos resmungos da esposa, Burro resolveu conferir a hélice e foi então que reparou num emaranhado estranho preso nas pás.
E disse à mulher:
___ Parece que cascas de cocos se prenderam nas pás! ___ Vou ter que ir lá tirar.
E assim, mesmo não querendo se molhar, foi obrigado a entrar na água com uma faca para desobstruir as hélices.
Já dentro d'água, Burro se deparou com uma situação inusitada. Segundo ele,
não eram cascas de cocos que prendiam as pás da hélice, eram barbas de camarões que se enroscaram nas mesmas. O pescador então começou a retirar todo aquele emaranhado de barbas das hélices e ficou quase meia hora jogando o material sobre o assoalho da canoa e quando terminou de limpar as pás a embarcação já estava carregada de barbas de camarões. O peso então fez o casal desistir do passeio e voltar para Terra Caída.
Quando chegaram em terra firme, Dona Regina saiu pisando duro para casa e Burro ficou trançando as barbas de camarões. Quando terminou o serviço havia confeccionado e enrolado na bobina mais de sessenta metros de corda.
Ao terminar de contar essa estória, todos os rostos estavam voltados para ele, que continuava sério. Mas quando as pessoas se deram conta de tão grande absurdo caíram na risada.
Então Burro tomou uma dose reforçada de "cachaça coquinho" e exclamou:
__ Toma Burro!
Adriribeiro/@adri.poesias