RELA BUCHO NO RIO MIMOSO
Esses dias, conversando com um antigo amigo entendi filosoficamente um conceito muito importante. O fato de que algo ruim tem sempre a possibilidade de ser pior.
Esse velho amigo meu é um nordestino que nunca frequentou uma escola na vida, alagoano ido pro Maranhão ‘inda pequeno, pioneiro em explorar a mata de transição entre nordeste e norte, na divisa dos estados do Pará com o Maranhão.
Ele e eu estávamos conversando sobre um grupo de jovens fazendo manobras em moto que a gente estava escutando próximo ao local em que conversávamos.
Em certo momento meu amigo fez uma consideração sobre o fato arrazoando que: "esses minino gostam de moto, né?"
Ao que respondi: "...e o pior é que eles gostam de umas motos bem barulhentas, hem?
O meu velho amigo, do alto dos seus 92 anos, cismou uns segundos e falou: "...é melhor com essas motos ai do que tá numa festa armado com uma faca querendo furar o bucho de alguém."
Ai começou contar um caso acontecido pro lados do Riacho Mimoso, espreitando Vila Rondon, no ano de 70, no tempo em que aqui era o Zero, município de Paragominas, de acordo com ele. "Uns trabaidô maderero, tudo jove, numa curruitela no mei da mata se reuniro pra festejá num sei o quê. Todo mundo armado de faca, enchendo a cara de pinga e escutando Amado Batista num toca-fita ligado numa bateria. Quando que já umas horas da noite começou um bate boca que virô numa briga de faca. Foi uma briga muito feia. Morreu muitas pessoas." Finalizou meu velho e antigo amigo pensativo e ainda meio que assombrado pela lembrança. Ele meio alquebrado, mas altivo, levantou-se do tamborete e se virou para alcançar a garrafa de café; foi ai que, eu, olhando percebi cinco grandes cicatrizes, que do lado esquerdo se entrecortavam nas suas costas. Ele pôs a garrafa de café na pequena mesa, no quintal da casa, na sombra de uma frondosa mangueira e finalizou dizendo:. "Foi o pió rela bucho que eu participei na minha vida. Pra nunca mais!".