Vinte dedos nas duas mãos

Seu Zequinha sempre foi um grande contador de estórias. Chegando até a criar muitas delas. Ninguém atina quando é dele ou quando apenas conta causos de ouvir dizer.

Dia desses deu de teimar que todo mundo tem vinte dedos nas duas mãos.

__ São dez!

__ São vinte!

__ São dez!

E assim foi uma peleja no bar por quase duas horas.

Resolveram então chamar o velho Dudé, enfermeiro do exército reformado entendido de anatomia humana, para convencer seu Zequinha que ele estava equivocado.

Só de pilhéria, deram uma dose de caninha da roça ao soldado aposentado e puxaram o assunto outra vez:

__ Então Zequinha? Quer dizer que todo mudo tem vinte dedos nas duas mãos?

O velho prosista confirmou:

__ Eu tenho vinte, você tem vinte e todo mundo tem vinte, menos o Comandante Dudé porque perdeu o dois na guerra.

Todo mundo ficou em silêncio olhando os dois homens.

Bem devagar o velho enfermeiro começou:

__ Todo indivíduo, se nascido perfeito, tem 5 dedos em cada mão. Somando as duas formam dez. E o Senhor está enganado. Eu só perdi um dedo na guerra.

O Senhor Zequinha não se abalou. Continuou no carteado por mais alguns minutos.

Mas os homens o provocavam:

__ Oxente Zequinha! E aí? Afinal, são dez ou são vinte dedos?

Seu Zequinha levantou sério da mesa, dirigiu-se até o balcão e pediu mais uma dose. ___ A saideira! Disse ele. Espremeu uma banda de limão no copo, balançou a mistura e tomou a aguardente num gole só fazendo careta. Em seguida botou o copo medidor no balcão e falou:

__ Eu disse que todo mundo tem vinte dedos nas duas mãos. E digo de novo. Querem que eu diga?

E os caras para fazer mais graça começaram a gritar:

__ Diga! Diga! Diga!

__ É para dizer? Pronto! Então eu vou dizer:

Pegou no dedo mindinho e foi alternando cada dedo da mão esquerda enquanto dizia:

__ vou dizer um...

__ Dizer dois...

__ Dizer três

__ Dizer quatro

__ Dizer cinco

Foi para a mão direita e continuou:

__ Dizesseis

__ Dizessete

__ Dizoito

__ Dizenove

__ Vinte!

Pronto! Acabou!

Agora peçam aí ao Comandante Dudé pra dizer.

Os homens olharam para o velho soldado e junto com este para o dedo anular que o mesmo havia perdido em combate. O dois!

Zequinha pegou o chapéu que pusera em cima do balcão, pôs na cabeça, deu até logo e deixou o bar.

Mas não sem antes ouvir as gargalhadas!

Adriribeiro/@adri.poesias