UM POÇO RESISTENTE AO TEMPO

 

 

Eu aprendi nos meus livrinhos que é possível viajar para o futuro e para o passado... Quando usamos o pensamento e nesse conto do Scaramouche, que levou-me até 1949, na cidade de Carazinho/RS onde meu pai que era oleiro, pedreiro, fazedor de poços para água sendo considerado um faz tudo que aprendeu na vida tendo apenas uma formatura “alfabetizado"

 

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Neste dia aos seis anos eu estava ajudando meu pai, que estava construindo mais um poço. Nas suas escavações, munido de pá e picareta meu pai enchia um balde de terra, que eu puxava através de uma corda atrelada a uma manivela. Eu ia brincando de trabalhar e fazia um morrinho de terra e foi ali que eu comecei a vida como um autodidata.

 

Interrompendo a minha viagem ao passado, voltei para o ano de 2022, ano em que pretendo completar 79 anos. Fui visitar minhas sobrinhas em Porto Alegre e ali revi um poço que meu pai havia feito com o auxílio do pai das minhas sobrinha, executado por volta de 1956 medindo mais de 20 metros de profundidade que a família sempre colheu água pura para sua família, ás vezes cedia para os vizinhos que enfrentavam falta d‘água, encanada. O poço ficava na frente da casa onde foi construído um caramanchão onde a família se reunia para conversar, sendo o poço o atrativo principal.

Foi um poço que deu certo e nele não foi encontrado pedras no fundo que teria de explodir ou abandonar o local... meu pai não usava forquilhas para encontrar água e nem técnicas geológicas. Ele ia pelo intuito e fazia num lugar em que fosse de fácil acesso, e seu objetivo era cavar até encontrar água. Esse poço que me refiro nunca secou e era o orgulho do meu pai e do pai das minhas sobrinhas. Com a evolução das casas na sua redondeza, quem sabe o poço deixara de existir, mas ficará o registro nos contos do Scaramouche.

 

A retirada de água era feita com gangorra ou com manivela, existia um peso para que quando o balde batia na água ele afundava, enchendo totalmente... com o tempo o poço feito pelo meu pai sofreu uma evolução na retirada da água com cano que ia até o fundo e uma bomba no bocal do poço onde aqueles que queriam tomar água pura e fresca teriam que fazer força para a água subir... exercício e agua fresca, mantinha a forma física.

Esse poço ficou dentro de casa e só foi deixado o seu uso porque veio à evolução e a água encanada, além da contaminação. Os feitores do poço tinham muito orgulho do seu feito e a família que hoje são as minhas sobrinhas, guardiãs do poço, continuam morando no mesmo local, mantendo a casa e o poço com água limpa como se fosse uma relíquia, e até 2022, ele está ali e merece a sua história, contada nesta crônica.

 

 

Scaramouche
Enviado por Scaramouche em 19/01/2022
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