"AVENTURAS" DO JOÃOZINHO

"AVENTURAS" DO JOÃOZINHO

Os "causos" do Joãozinho são antigos e são muitos... pior, todos "cabeludos" e envolvendo as pobres professoras, ingênuas demais para ver no "pestinha" o poço de maldade, digo, de picardia (epa !) que lhe vai na alma suja. Joãozinho é primo do famoso "Juquinha", outra "praga" do mesmo nível. Joãozinho foi expulso de várias escolas e passou pela minha, aliás, a escola na qual eu estudava. Embora "sacaneasse" com quase todos, mestras e alunos, o traste simpatizara comigo... e eu com êle, pra meu azar !

Vivia insistindo para levá-lo até minha casa... eu não era "nem doido", minha mãe era severíssima -- meu pai, motorista de caminhão, passava o ano na estrada -- e, assim que puzesse os olhos no "capeta", veria o tipo de amigo com quem eu andava no colégio. Contudo, a irmã dela, "Leninha", tia Helena para mim, era mais sociável, sem a experiência que a vivência nesta "sociedade de lobos" traz a alguns "carneiros". Titia era a famosa "anta", do tipo Dilma-presidenta, a que queria produzir energia elétrica a partir da mandioca. Tia Helena "apaixonou-se" pelo garoto esperto, que não perdia uma piada e lhe "jogava xavecos", termos de duplo sentido que raramente ela percebia, mas que me deixavam "fulo da vida" com a audácia do pivete:

-- "Vá na frente que eu vou-lhe atrás, dona "Lelê" !, comentava com um sorriso maroto e o gesto peculiar aos mordomos. Tia Helena "derretia-se" com o cavalheirismo malandro do Joãozinho, a quem eu sentia vontade de esganar, se não fosse isso suprema covardia, tinha eu palmo e meio a mais que o pirralho. Mas, exibia-lhe o punho cerrado e a promessa muda do tipo "te pego na esquina" !

Custei a saber que o miserável frequentava a casa da titia em outros momentos, além dos raros em que eu o levava. O "traste" estava quase morando lá, meu posto de sobrinho predileto em perigo, tia Helena a tratá-lo como filho único. Papai tinha lhe dado um papagaio -- pra irmã, leitor "antinho" dããã ! -- e o infeliz (o garoto, "hipoleitor") ensinara ao tagarela verde alguns "truques". Titia "estava nas nuvens", ela não conseguira que o "louro azul" lhe dissesse nem "Bom dia" ! Me mostrou os progressos do bicudo tricolor:

-- "Dá o pé. Lorico" !, e o psitacídeo interesseiro lhe mostrava um dos pés, "mão fechada" exceto 1 dedo no ar. Os cabelos da nuca me ficaram em pé, era o clássico gesto de mandar alguém "tomar naquele lugar"... só titia não sabia disso !

-- "O Joãozinho ensinou ao "penoso", é um craque nisso" !

-- "Lorico, pede o anel pro me sobrinho" !

-- "Me dá o anel, palhaaaço" !, berrou roucamente o "louro", seguido de uma gargalhada. Meu coração gelou, meus olhos não creram no que viam ! O cretino do Joãozinho ensinara à pobre ave o gesto de "OK" ao contrário, 2 dedos em rodinha e os demais espalhados... fiquei mudo por instantes, meio gago, mudei de cor, titia notou.

-- "O que foi isso, querido... viu algum fantasma" ?!

Chamei titia para a sala, sentei-a delicadamente no sofá, alertei que o Joãozinho"comprava" a colaboração do papagaio com miolos de pão e biscoito e lhe "decodifiquei" os gestos imorais da ave pilantra. Titia ficou verde como o "Lorico", se tivesse penas a gente até confundiria, os acharia mãe e filho. Refeita, deu-me o ultimato, sem aceitar argumentação:

-- "Dentro de 3 dias me traga aqui aquela "peste" !

Os dias passaram rápido, Joãozinho feliz pelo convite.

-- "Olha quem chegou, "Lorico"... o Joãozinho" !!!

-- "Dá-lhe DE CINTO, Helena, dá-lhe de cinto" !

Quando "saí de fininho" da cozinha, Joãozinho estava no sexto ou 7º berro !

"NATO" AZEVEDO (em 15/jan. 2022, 15hs)