Capítulo 15: O destino da Dona Josefa e seus filhos pretos

 

     Temendo pelo futuro incerto o Senhor Fontes começou a se preocupar como ficariam seus filhos pretos se caso lhe acontecesse alguma coisa. Percebia que a sociedade interiorana muito preconceituosa não aceitava-os como seus filhos, discriminando-os inclusive dentro da própria fazenda e na sua presença.

   

     Essa discriminação embora não partisse da sua mulher e dos seus filhos legítimos, acontecia com mais frequência do que ele podia controlar. Sendo praticada tanto por seus trabalhadores quanto pelos amigos da cidade. E se não tomasse uma atitude, no futuro os filhos ficariam desprotegidos. Além disso já estava na hora de dar ouvidos às mulheres que viviam lhe azucrinando o juízo com a ladainha de que os meninos precisavam estudar.

 

     Foi assim que o fazendeiro se viu tratando com um compadre sobre a compra de um pedaço de terra nas imediações da cidade de Arauá. Um terreno medindo cerca de cinco tarefas que ficava situado às margens de uma das estradas de terra que levavam à fazenda. No mesmo havia uma casa antiga porém em bom estado de conservação que abrigaria a todos com certo conforto. Bem melhor que a choupana da fazenda onde viviam, diga-se de passagem.

 

     Com o terreno adquirido o Senhor Fontes entregou a chave da casa à Dona Josefa para que se mudasse com os filhos e cuidasse de colocá-los na escola. Como estava impedido de cuidar de tudo pessoalmente recomendou ao compadre que fosse até o Cartório e solicitasse em seu nome os registros dos filhos para que pudessem ser matriculados na escola como era exigido.

    

      Logo a família preta do Senhor Fontes se mudava para a cidade. E os meninos começavam a estudar, com exceção de José, que já estava rapaz e não acompanhara a mãe e os irmãos para a nova casa.

Domingos até foi junto com a mãe mas logo voltou para a fazenda pois não se adaptou à cidade, era surdo-mudo e se sentia melhor na antiga moradia. Por isso, um dia sim e o outro também ele fugia pra lá pelos pastos que, da casa onde passaram a morar, não ficava tão distante para um adolescente de quase 14 anos.

    

     Alguns meses se passaram e já a Dona Josefa não era mais empregada da casa grande. Começara então a fazer serviços pra fora na cidade mesmo. Vezes lavando e passando roupa, vezes fazendo faxinas ou cozinhando em algumas casas.

 

     Morando na cidade, não demorou a reencontrar e retomar o namorico com o Soldado que visitava a fazendo uns tempos atrás. E foi por meio deste que arranjou um serviço de lavar e passar para os homens do quartel.

     

     Quando o Senhor Fontes ficou sabendo ameaçou tomar-lhe a casa e os filhos, mas a Dona Josefa já estava muito envolvida com o militar e não se fez de rogada quando este lhe convidou para ir embora para o Estado da Bahia com ele. Sendo um soldado de origem baiana, solicitara transferência e a mesma fora aceita. Assim, Dona Josefa foi embora de Arauá deixando tudo para trás, inclusive os filhos. E não se dera ao trabalho de mandar avisar a ninguém. Seja por descaso ou por medo da reação do Senhor Fontes, o fato é que a mulher só partiu levando os poucos pertences que podia levar numa sacola.

 

     Ao saber do ocorrido a Dona Emília se compadeceu das crianças, mandou uma carroça buscá-las e acolheu as quatro na própria casa, onde já estavam José e Domingos.

A casa da cidade ficou fechada por um tempo, mas logo foi vendida para outra pessoa. O Senhor Fontes já não aceitaria a Dona Josefa de volta se acaso ela voltasse.

 

     Mas o fato é que ela não voltou mais a procurá-lo.

 

Adriribeiro/@adri.poesias

Adriribeiro
Enviado por Adriribeiro em 25/12/2021
Reeditado em 25/12/2021
Código do texto: T7414778
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