O Natal da Família Fontineles
Desde o aparecimento do coronavirus no mundo, as pessoas vivem com medo. Medo de sair de casa. Medo de se aproximar das outras pessoas. Medo de ir para o trabalho. Medo de amar. Medo de viver.
O ano de 2020 foi um ano praticamente perdido. Ficamos em nossas casas trancafiados, perdidos nos nossos próprios medos. O ano de 2021 também seguia nesse mesmo ritmo. Até que...
Com o avanço da Ciência, ou seja, com a fabricação da vacina, voltou a esperança de dias melhores para todos. Aos poucos, as pessoas foram se vacinando e assim puderam sair de suas casas.
A economia deu sinal de vida, as vendas aumentaram, as empresas voltaram a contratar, mas, novamente, o coronavirus, com sua variante omicron, voltou a assombrar o mundo.
Não obstante a tudo isso, na família Fontineles, todos acreditam que o Natal desse ano será uma celebração da vida. “Estou convocando todos os meus filhos para que, na meia noite de 24/12/21, nos abracemos para receber o menino Deus”.
Os filhos de seu Jorge começaram a chegar. Vieram de seis estados do Brasil e um da Europa. Jordan, o filho mais velho do seu Jorge e o primeiro a chegar, foi logo protestando:
- Pai. Não é hora de reunir tanta gente. A pandemia ainda não passou.
Seu Jorge estava muito feliz para visualizar algum perigo em reunir todos os filhos depois de dois logos anos sem a tradicional ceia de Natal da família Fontineles. Apenas limitou-se a dizer:
- Vamos respeitar todos os protocolos de segurança.
Quando Jordana, a filha mais nova do seu Jorge chegou, vinda diretamente da Itália, onde trabalhava como modelo fotográfica, todos estavam radiantes, até que...
Os murmúrios, as lamentações, os choros, os gritos, as críticas começaram. Os filhos do seu Jorge estavam ressaltando apenas o lado negativo da vida, o inconformismo e o medo do futuro. Preocupado com o rumo daquela prosa, seu Jorge começou a falar:
- Filhos, quando eu era criança, o meu pai me contou a seguinte história. Um camponês se dirigia a Constantinopla e foi parado por uma senhora idosa que lhe pediu uma carona. Ele a colocou a seu lado e, enquanto seguiam a viagem, reparou bem na expressão fácil dela e assustado perguntou:
- Quem é você?
A velha respondeu:
- Eu sou a dona Cólera.
Assustado o camponês mandou a mulher descer e ir andando, mas ela convenceu a levá-la junto, prometendo que não mataria mais do que cinco pessoas em Constantinopla. Como garantia da promessa, entregou-lhe um punhal, dizendo que era a única arma capaz de matá-la. E acrescentou:
- Eu o encontrarei em dois dias. Se quebrar minha promessa, você pode me apunhalar.
Em Constantinopla, 120 pessoas morreram de cólera. Enraivecido, o homem que lhe dera carona para a cidade começou a procurá-la. Quando a encontrou, levantou o punhal que ela o havia dado para matá-la e gritou:
- Você prometeu que não mataria mais de cinco pessoas, mas 120 morreram!
Mas ela o deteve dizendo:
- Eu cumpri minha promessa. Só matei cinco. Foi o medo que matou as outras.
- Pai, por que o senhor está contando essa história para a gente? -questionou a filha modelo do seu Jorge.
- Para que vocês aprendam uma lição. Pensamentos negativos atraem coisas ruins. Quando encaramos a vida com otimismo coisas boas acontecem. Vamos deixar o medo para trás. Daqui para afrente será só vitórias.
Quando o seu Jorge terminou de falar, o relógio marcava 23h59 minutos do dia 24/12/2021. Todos se abraçaram e puderam comemorar mais um Natal Feliz e Sem Medo na família Fontineles!