O NATAL E O AUTÓMEL DE LEITE DESNATADO
Sou do tempo que o natal tinha uma magia encantadora, seu principal personagem era o menino Jesus, cultuado com fé, um grande amor e respeito . O papai Noel era verdadeiro, ele existia sim, na minha ingênua imaginação de criança da roça. Ele andava a pé carregando no ombro, um saco cheio de presentes, objetos simples fabricados por ele próprio. Tudo artesanal. Na véspera do Natal eu o esperava com grande expectativa, na sua passagem nunca imaginei um presente sofisticado, não sonhava tão alto, como atualmente sonha e exige esta nova geração. Eu sempre colocava um sapato empestado de meu pai, na soleira da Janela, ou atrás de uma porta qualquer, no dia seguinte lá ia eu conferir. Sempre encontrei meu presente, jamais ele esqueceu de mim, era tudo muito simples, uma coisinha de pouco valor material, ele sempre deixava, um carrinho de boi, uma violinha fabricada com um de caco de cabaça com cordas de gomas do elástico retiradas de uma botina velha, as vezes uma par de alpercatas, fabricadas de couro cru, boizinhos de sabugos de milho com seus chifrinhos encaracolados feitos de arame liso.
Mas teve o Natal que fui surpreendido e me marcou profundamente, ao deparar-me com um automovelzinho, de leite desnatado. Verdinho, era o tal do (vê oito) o luxo mais sofisticado dos ricos. Foi uma alegria imensurável, no dia seguinte lá estava eu no terreiro brincado de ser rico, fabricando minha estradinha de automóvel. Inspirando-me em gente grande, imitando meu pai que ajudado por alguns vizinhos , com ferramentas rudimentares abriram uma estrada dando acesso à estrada de automóvel que ligava Bom Despacho a Martinho Campos. Para que os primeiros veículos motorizados, ou seja, os famosos fordinho vinte e nove pudessem transitar até as residências, que ate então só com o cavalo e o carro de boi chegavam até elas. Na cultura daquela época o linguajar era bastante primitivo e diferenciado, meu carrinho, por exemplo, e outros objetos fabricados com um plástico extraídos do resíduo de soro do creme de leite, a caseína, se diziam ser fabricados de leite desnatado.
No meu passado sertanejo a sublime magia do Natal irradiava uma imensurável felicidade. Tudo muito simples inspirados no nascimento do menino Jesus, no amor e no aconchego de uma simples manjedoura e no acolhimento dos pastores e dos animais. Poderia o menino Jesus ter nascido entre nobres cercado de ouro e prataria, mas escolheu nascer dos pobres numa pobre estrebaria. A sua humildade é o maior e mais sagrado espelho para a humanidade!
obs: (imagem googlo)