QUANDO A BRINCADEIRA SAI PELA CULATRA

POR JOEL MARINHO

No consultório psicológico entrou batendo a porta aquela mulher

franzina de olhar vívido e amedrontador. O analista tentou

disfarçar o medo que sentiu e o falou compassadamente.

- Fique à vontade, senhora!

Enquanto lia seu prontuário e vendo o quanto de analista ela já

havia agredido antes dele deu vontade de soltar aqueles papéis

no chão, abrir a porta e sair correndo, mas resolveu encarar de

frente o perigo. Pensou ele: seja o que Deus quiser!

Com a voz firme mesmo embargada pelo medo perguntou:

- Qual o seu nome, senhora?

- Não tenho nome, respondeu. Sou a rainha da Inglaterra!

Ele pensou rápido e falou:

- Napoleão Bonaparte ao seu dispor, senhora!

O olhar de admiração dela foi como se estivesse frente a um

anjo ou o próprio Deus.

- Napô, é você mesmo meu amor? Quanto tempo eu andei em

busca de notícias sua. Ah meu amor, quantas faltas você me faz.

Como eu queria que tivesse invadido a Inglaterra, eu seria a sua

rainha eterna mesmo tendo que dividir você com Josefina e

Maria Luísa.

Vendo a enrascada que havia se metido o analista falou:

Ficamos por aqui, na próxima sessão a senhora me fala mais

sobre a sua Corte.

E daquele dia em diante a “rainha da Inglaterra” nunca mais

faltou uma sessão com “Napoleão Bonaparte” e para a alegria

de todos não houve mais agressão por parte dela a ninguém, ela

havia encontrado a metade de sua “laranja” e ele nunca mais

inventou de fazer nenhuma brincadeira com nenhum outro

cliente seu.