Ah, os lobos bons... - BVIW
Tema: A infância da mãe (conto)
A menina era sapeca demais! Morava na fazenda com os pais e era a primogênita. Durante o dia era peralta, mas à noite… morria cada vez que o sol cedia ao pretume da noite. Certa vez, seu pai, o fazendeiro, armou uma arapuca para pegar um lobo que estava devorando o galinheiro, ave por ave. A menina chorava desesperada com dó da galinha que foi colocada na arapuca como isca, e por mais que o pai lhe dissesse que a galinha estava num compartimento inacessível às garras e dentes do lobo, ela não se conformava. Claro que o pai não ia perder outra galinha para o lobo! A noite já ia avançada, quando a família acordou com os ganidos dos cachorros e os uivos do lobo. O pai levantou-se apressado da cama, passou a mão na cartucheira e foi se acertar com o ele. Naquela época, em 1946, essas coisas eram permitidas. Havia lobos demais lá pelas bandas da Serra da Canastra e, galinha de menos nos terreiros dos fazendeiros, que tinham muitas bocas para alimentar. Os uivos do lobo causaram tal terror à menininha de 3 anos, que até sua idade madura continuava sonhando com a perseguição da matilha. Esse martírio infantil só teve fim, quando se pôs a escrever suas memórias, no livro Olho de Gato, Rabo de Tatu. Daí, os urros entraram pra dentro do livro e saíram do seu coração.
(História real, vivida por minha mãe, Neneve Castro)