Vida e Cida vicentinas

Muito sensível à sorte alheia, sobretudo à dos desafortunados, desde menina Cida se compadecia das agruras dos moradores de rua. E embora não tivesse os seus cobres próprios arquitetou uma forma de os ajudar a enfrentar sua penúria com menor desconforto.

Daí, pegou umas roupas usadas do pai, ainda em muito bom estado, com o consentimento e até o incentivo deste, e foi fazer, sponte sua, sua obra vicentina, não muito distante de sua casa, onde encontrou um pequeno grupo deles, tiritando de frio e fome em torno de uma fogueirinha.

Despachada, aproximou-se dos andrajosos cidadãos e anunciou-lhes:

- Moços, eu vim trazer-lhes essas roupas procês se agasalharem desse frio...

Um tanto atônitos, eles responderam em quase unissono:

- Ô moça, nós num pricisa de rôpa não, sá, o que nós qué é muié...!

Mais que atônita, atômica, Cida deu no pé...

Paulo Miranda
Enviado por Paulo Miranda em 05/11/2021
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