Capítulo 14 – A pré-sentença proferida, a perda da liberdade e os prejuízos financeiros
Havia se passado cerca de três anos da morte do jovem enamorado da desajuizada Ana quando uma sentença prévia foi proferida. O soldado que estava de olho na Dona Josefa foi levar a intimação na fazenda procedendo à convocação do Senhor Fontes e de três dos seus homens para comparecerem ao quartel da cidadezinha de Arauá para ouvirem do juiz da comarca a sentença que lhes cabia.
A audiência estava marcada para dali a um mês. E logo o fazendeiro recebia na propriedade a visita do amigo que havia atuado diretamente como advogado em seu favor naquele caso. E desse amigo recebera a informação de que a sentença do juiz não seria de todo muito ruim, nem para ele, o próprio Senhor Fontes, nem para nenhum dos seus homens.
Não obstante lhe traria algumas limitações e prejuízos, mas diante do crime cometido, seria recomendável que a acatasse prontamente, posto que o Juiz estaria levando em consideração algumas circunstâncias atenuantes que lhe garantiria uma sentença mais do que satisfatória.
No entanto, mensurar o que para um homem como o Senhor Fontes seria ou não uma sentença justa não era lá uma coisa muito fácil de fazer, posto que o mesmo, além de ser um rico proprietário da região também era um dos homens mais respeitados e mais admirados pelo seu jeito justo e cumpridor do dever. Um grande trabalhador e empregador daquela localidade. Que num instante de desamparo da sorte cometera um erro imperdoável. Mas ainda assim, conservava uma certa arrogância, própria dos antigos moldes coronelistas. E convencê-lo de que o que fizera não poderia e não iria ficar impune era ainda mais difícil.
O fato é que no dia marcado para a audiência o fazendeiro desceu para a cidade com seus três homens de confiança e que também eram os mesmos que estavam sendo processados junto com ele. Muito embora o próprio Senhor Fontes tenha assumido a autoria do crime e tentado diminuir a responsabilidade dos seus trabalhadores no caso, posto que estavam ali e fizeram o que fizeram porque estavam acatando suas ordens, a verdade é que a sentença proferida pelo juiz foi a mesma para todos.
Prisão domiciliar até segunda ordem.
Dali em diante, os quatro homens deveriam cumprir prisão em casa. Ficando terminantemente proibido que saíssem da cidade para qualquer que fosse a atividade independente da necessidade. E, se acaso a decisão judicial fosse afrontada e desobedecida, os quatro homens seriam presos definitivamente e encaminhados para a penitenciária que na época ficava localizada na capital Aracaju.
A pré- sentença de fato não fora, de todo, uma surpresa nem uma punição assim tão grande diante do crime cometido na fazenda. Pois o juiz havia levado em consideração todo o contexto de pai ludibriado e a classificação do ato ilícito como um crime passional, devido à intensa privação de sentidos pela raiva. Foi também considerado o fato do Senhor Fontes ser um pai de família cujos filhos eram pequenos ainda e precisavam dele já que sua esposa era uma mulher muito doente e sem parentes que pudessem cuidar da família.
Após o encerramento da audiência, o Senhor Fontes e seus homens retornaram à fazenda para dali não saírem mais...
E assim as propriedades do fazendeiro foram sendo gradativamente abandonadas.
A fazenda de Iunas na Bahia, a mais distante, foi a primeira a ser deixada de ser visitada e vistoriada pelo fazendeiro, que já o fazia cada vez menos depois do acontecido. Logo o proprietário enviava para lá um amigo-parente que considerava de sua inteira confiança a fim de fazer a administração das terras através dele.
Os terrenos dentro do Estado foram entregue aos outros “amigos” e alguns irmãos. Apenas a propriedade recém-adquirida em Itabaiana ele decidiu doar à filha Zelita e seu esposo para morarem e administrarem. Já que se assim não o fizesse o comércio dos produtos provenientes do canavial ficaria ainda mais prejudicado.
Com a ida de Zelita e sua família para Itabaiana, o próprio Senhor Fontes passou a tomar conta do armazém da estrada real junto com seus filhos, entre eles José que já estava rapazinho.
Dizem que dali em diante o fazendeiro mudou muito. Que passou a ficar arredio e calado voltando a caçar mais vezes, pois só se sentia bem quando estava nas matas ou nas plantações distantes de casa.
Não se sabe o que ele esperava da justiça, mas com certeza nunca lhe passara pela cabeça que ficaria confinado dentro da Fazenda Olhos D’água definitivamente. Era um homem de negócios e gostava de sua vida de fazendeiro itinerante.
Além de nunca ter vivido embaixo de ordens. Isso o contrariava mais do que se podia imaginar. E até dos “amigos com força política e poder judiciário na região” ele se afastou.
Dizem que fora o seu maior erro. Que deixar de bajular em troca de favores não foi uma boa escolha. E pagaria logo e muito caro pelo que consideraram sua soberba.
Continua...
Havia se passado cerca de três anos da morte do jovem enamorado da desajuizada Ana quando uma sentença prévia foi proferida. O soldado que estava de olho na Dona Josefa foi levar a intimação na fazenda procedendo à convocação do Senhor Fontes e de três dos seus homens para comparecerem ao quartel da cidadezinha de Arauá para ouvirem do juiz da comarca a sentença que lhes cabia.
A audiência estava marcada para dali a um mês. E logo o fazendeiro recebia na propriedade a visita do amigo que havia atuado diretamente como advogado em seu favor naquele caso. E desse amigo recebera a informação de que a sentença do juiz não seria de todo muito ruim, nem para ele, o próprio Senhor Fontes, nem para nenhum dos seus homens.
Não obstante lhe traria algumas limitações e prejuízos, mas diante do crime cometido, seria recomendável que a acatasse prontamente, posto que o Juiz estaria levando em consideração algumas circunstâncias atenuantes que lhe garantiria uma sentença mais do que satisfatória.
No entanto, mensurar o que para um homem como o Senhor Fontes seria ou não uma sentença justa não era lá uma coisa muito fácil de fazer, posto que o mesmo, além de ser um rico proprietário da região também era um dos homens mais respeitados e mais admirados pelo seu jeito justo e cumpridor do dever. Um grande trabalhador e empregador daquela localidade. Que num instante de desamparo da sorte cometera um erro imperdoável. Mas ainda assim, conservava uma certa arrogância, própria dos antigos moldes coronelistas. E convencê-lo de que o que fizera não poderia e não iria ficar impune era ainda mais difícil.
O fato é que no dia marcado para a audiência o fazendeiro desceu para a cidade com seus três homens de confiança e que também eram os mesmos que estavam sendo processados junto com ele. Muito embora o próprio Senhor Fontes tenha assumido a autoria do crime e tentado diminuir a responsabilidade dos seus trabalhadores no caso, posto que estavam ali e fizeram o que fizeram porque estavam acatando suas ordens, a verdade é que a sentença proferida pelo juiz foi a mesma para todos.
Prisão domiciliar até segunda ordem.
Dali em diante, os quatro homens deveriam cumprir prisão em casa. Ficando terminantemente proibido que saíssem da cidade para qualquer que fosse a atividade independente da necessidade. E, se acaso a decisão judicial fosse afrontada e desobedecida, os quatro homens seriam presos definitivamente e encaminhados para a penitenciária que na época ficava localizada na capital Aracaju.
A pré- sentença de fato não fora, de todo, uma surpresa nem uma punição assim tão grande diante do crime cometido na fazenda. Pois o juiz havia levado em consideração todo o contexto de pai ludibriado e a classificação do ato ilícito como um crime passional, devido à intensa privação de sentidos pela raiva. Foi também considerado o fato do Senhor Fontes ser um pai de família cujos filhos eram pequenos ainda e precisavam dele já que sua esposa era uma mulher muito doente e sem parentes que pudessem cuidar da família.
Após o encerramento da audiência, o Senhor Fontes e seus homens retornaram à fazenda para dali não saírem mais...
E assim as propriedades do fazendeiro foram sendo gradativamente abandonadas.
A fazenda de Iunas na Bahia, a mais distante, foi a primeira a ser deixada de ser visitada e vistoriada pelo fazendeiro, que já o fazia cada vez menos depois do acontecido. Logo o proprietário enviava para lá um amigo-parente que considerava de sua inteira confiança a fim de fazer a administração das terras através dele.
Os terrenos dentro do Estado foram entregue aos outros “amigos” e alguns irmãos. Apenas a propriedade recém-adquirida em Itabaiana ele decidiu doar à filha Zelita e seu esposo para morarem e administrarem. Já que se assim não o fizesse o comércio dos produtos provenientes do canavial ficaria ainda mais prejudicado.
Com a ida de Zelita e sua família para Itabaiana, o próprio Senhor Fontes passou a tomar conta do armazém da estrada real junto com seus filhos, entre eles José que já estava rapazinho.
Dizem que dali em diante o fazendeiro mudou muito. Que passou a ficar arredio e calado voltando a caçar mais vezes, pois só se sentia bem quando estava nas matas ou nas plantações distantes de casa.
Não se sabe o que ele esperava da justiça, mas com certeza nunca lhe passara pela cabeça que ficaria confinado dentro da Fazenda Olhos D’água definitivamente. Era um homem de negócios e gostava de sua vida de fazendeiro itinerante.
Além de nunca ter vivido embaixo de ordens. Isso o contrariava mais do que se podia imaginar. E até dos “amigos com força política e poder judiciário na região” ele se afastou.
Dizem que fora o seu maior erro. Que deixar de bajular em troca de favores não foi uma boa escolha. E pagaria logo e muito caro pelo que consideraram sua soberba.
Continua...