A doação moedas
A doação moedas
"Chorei largado." Me fez recordar de um garoto que saiu da matinê domingueira no Cine Tangará, em 1960. Mãos nos bolsos, caminhou em direção da Rua Bernardino de Campos, onde tomaria o ônibus para retornar ao lar, no distante bairro Jardim Bom Pastor. Na esquina da Av. Queirós dos Santos com a Bernardino, uma mulher sentada no chão, lhe estende a mão. O Garoto (13 anos) olha e se compadece, havia duas crianças pequenas ao lado da Mulher e mais um bebê, sugando o peito magro. Mal contendo as lágrimas que insistiam em jorrar, o Garoto balançou as moedas que tinha no bolso: Era o exato valor da passagem de ônibus. Olhou para o Ponto de ônibus do outro lado da rua, tentando vislumbrar algum rosto conhecido, talvez conseguisse algum trocado emprestado. Mas não havia nenhum conhecido. O Garoto tentou imaginar quantos quilômetros teria que percorrer à pé, para chegar em casa. Talvez uns 6 a 10Km. Será que conseguiria em uma hora? Respirou fundo, sacou as moedas e entregou para a Mulher, Mãe, Guerreira. Ouvindo ela dizer "Obrigado, Deus te pague", o Garoto afagou levemente os cabelos das duas crianças e se afastou rápido, dizendo "Fiquem com Deus." Foi abafando os soluços e enxugando as lágrimas teimosas que escorriam aos cântaros. Seguiu lépido em direção da Av. Portugal, quando alcançou a Av. Lino Jardim, um suave aclive, já estava respirando melhor. No topo a Av. Atlântica. Após uma reta a descida acentuada, até as margens do Ribeirão dos Meninos, início da Av. Jardim Bom Pastor. Já começava a escurecer. Sentia-se tranquilo, leve, pisando em "território amigo". Dominava aquelas plagas, conhecia cada rua, cada beco. Chegando em casa, sua mãe perguntou o motivo da demora em retornar. O Garoto buscou refúgio nos braços da mãe e contou o episódio. (...)
(Juares de Marcos Jardim - Santo André / São Paulo - SP)
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