O menino fantasma da fortaleza
Diz a lenda, que numa das maiores e impenetráveis fortalezas do Brasil Colonial, vivia um fantasma cuja missão era consolar, dar
um pouco de acalento para aqueles que a vida havia esquecido.
Certa tarde, debruçados na magnífica paisagem do lugar, conversava o casal de namorados:
— Sabe Diogo, há muitos anos, conta os mais velhos que, existiu por aqui, o fantasma de um menino. Na época dessas aparições, só tomaram conhecimento do fato, porque Frederico Guilherme, um pirata prisioneiro, que com mais cinco outros condenados, dividiam aquele pequeno espaço da masmorra, foi encontrado praticamente morto, por isto, levado para a enfermaria destinada aos condenados e soldados gravemente feridos.
Frederico Guilherme contou para todos lá da enfermaria que, aqui na fortaleza morava, o fantasma de um menino.
— Mais uma história de fantasma, Isaura?
Isaura gostava de falar, com Diogo, das coisas antigas da fortaleza, as histórias de prisioneiros e dos fantasmas que, maioria deles, assombravam os soldados principalmente, nas noites de pouca lua.
— Sim, Diogo, mas, desta vez, tenho a impressão de que você irá gostar. O tal sobrevivente daquela enfermaria disse que ouviu da boca do próprio Frederico Guilherme que, por algumas noites, quando os que lá estavam em sofrimento intenso, um menino aparecia do nada num canto da escuridão da cela.
Nas mãos trazia comida boa, roubada da casa do senhor comandante. O menino atravessava a porta de ferro maciça, como que se ela estivesse aberta e se postava sempre, no fundo da cela. Lá do fundo, irradiava uma luz branco azulada de modo que todos que estavam gritando, se lamentando, xingando se calavam e iam sendo atraídos por aquela luz. Ele estendia suas mãos, oferecendo comida para todos, e se o prisioneiro não pudesse andar, o menino ia até ao infeliz e colocava algum alimento em suas mãos. — Nossa Isaura, que história linda!
— É verdade, Diogo. O soldado sobrevivente da enfermaria, disse também para todos do alojamento, que naquele momento já se aglomeravam ao redor da sua cama, que o menino, além de alimento, estendia suas mãos sobre os corpos dos
prisioneiros e que quando isso acontecia, todas as suas
dores se acalmavam; por fim, cantava uma música tal qual
aquela que se canta para as crianças e todos, por um bom
tempo, dormiam como anjos.
Numa, dessas noites mal dormidas, o senhor capitão comandante
da fortaleza, escutou lá dos seus aposentos o bater de tampas de panelas e, quando se dirigiu para averiguar o ocorrido, encontrou
um menino de asas compridas enchendo um vasilhame de comida.
O senhor capitão ficou ali escondido, vendo o menino se fartar de tanta comida. Pensou o capitão que iria comer tudo bem ali em sua frente, entretanto, o menino saiu voando com toda aquela comida em suas mãos sumindo na escuridão da noite.
Soldados (sentinelas) lá do alto de suas guaritas, já presenciaram a luz branco azulada que por vezes, sobrevoava o pátio, indo em direção às casamatas onde, por lá, também estava a masmorra.
— E você, Isaura, alguma vez já presenciou a tal luz?
— Não, Diogo. Essas aparições, segundo contam os mais velhos, terminaram próximo aos anos de 1680.
— Esquisito isso, por que será que o menino não voltou mais?
— Certa noite, Diogo, segundo Frederico Guilherme, o menino chegou tristonho, das suas mãos ele nunca havia visto sair tanta comida, parecia que ele queria matar a fome de todos por muitos e muitos anos. Naquele dia, e somente naquele dia, enquanto comiam o menino se revelou contando para os prisioneiros, que naquele exato
dia, fazia sessenta anos que havia falecido.
Faleceu de uma doença contagiosa, disse ser filho de um dos
comandantes da fortaleza e que nunca entendeu como seu pai deixou tantas pessoas aprisionadas morrendo de fome, e nos seus próprios desesperos. Desde então, a ele foi concedido o poder de amenizar o mal que seu pai fizera a tantos. Assim, sua missão seria a de ajudar
outros prisioneiros, em igual sofrimento e abandono pelos
sessenta anos seguintes. Um dos prisioneiros indagou ao menino:
— Como ficaremos agora?
O menino, de dentro da sua tristeza, sorriu e respondeu:
— Em breve o sofrimento de todos vocês terminarão,
pois, dentre todos, o primeiro que deixar esta cela receberá
a missão de dar continuidade ao meu serviço.
Os jovens foram conversando, se namorando, se aproveitando daquela linda tarde de domingo.
Do livro “Os Emparedados de Santa Cruz” de Paulo César Coelho.
Diz a lenda, que numa das maiores e impenetráveis fortalezas do Brasil Colonial, vivia um fantasma cuja missão era consolar, dar
um pouco de acalento para aqueles que a vida havia esquecido.
Certa tarde, debruçados na magnífica paisagem do lugar, conversava o casal de namorados:
— Sabe Diogo, há muitos anos, conta os mais velhos que, existiu por aqui, o fantasma de um menino. Na época dessas aparições, só tomaram conhecimento do fato, porque Frederico Guilherme, um pirata prisioneiro, que com mais cinco outros condenados, dividiam aquele pequeno espaço da masmorra, foi encontrado praticamente morto, por isto, levado para a enfermaria destinada aos condenados e soldados gravemente feridos.
Frederico Guilherme contou para todos lá da enfermaria que, aqui na fortaleza morava, o fantasma de um menino.
— Mais uma história de fantasma, Isaura?
Isaura gostava de falar, com Diogo, das coisas antigas da fortaleza, as histórias de prisioneiros e dos fantasmas que, maioria deles, assombravam os soldados principalmente, nas noites de pouca lua.
— Sim, Diogo, mas, desta vez, tenho a impressão de que você irá gostar. O tal sobrevivente daquela enfermaria disse que ouviu da boca do próprio Frederico Guilherme que, por algumas noites, quando os que lá estavam em sofrimento intenso, um menino aparecia do nada num canto da escuridão da cela.
Nas mãos trazia comida boa, roubada da casa do senhor comandante. O menino atravessava a porta de ferro maciça, como que se ela estivesse aberta e se postava sempre, no fundo da cela. Lá do fundo, irradiava uma luz branco azulada de modo que todos que estavam gritando, se lamentando, xingando se calavam e iam sendo atraídos por aquela luz. Ele estendia suas mãos, oferecendo comida para todos, e se o prisioneiro não pudesse andar, o menino ia até ao infeliz e colocava algum alimento em suas mãos. — Nossa Isaura, que história linda!
— É verdade, Diogo. O soldado sobrevivente da enfermaria, disse também para todos do alojamento, que naquele momento já se aglomeravam ao redor da sua cama, que o menino, além de alimento, estendia suas mãos sobre os corpos dos
prisioneiros e que quando isso acontecia, todas as suas
dores se acalmavam; por fim, cantava uma música tal qual
aquela que se canta para as crianças e todos, por um bom
tempo, dormiam como anjos.
Numa, dessas noites mal dormidas, o senhor capitão comandante
da fortaleza, escutou lá dos seus aposentos o bater de tampas de panelas e, quando se dirigiu para averiguar o ocorrido, encontrou
um menino de asas compridas enchendo um vasilhame de comida.
O senhor capitão ficou ali escondido, vendo o menino se fartar de tanta comida. Pensou o capitão que iria comer tudo bem ali em sua frente, entretanto, o menino saiu voando com toda aquela comida em suas mãos sumindo na escuridão da noite.
Soldados (sentinelas) lá do alto de suas guaritas, já presenciaram a luz branco azulada que por vezes, sobrevoava o pátio, indo em direção às casamatas onde, por lá, também estava a masmorra.
— E você, Isaura, alguma vez já presenciou a tal luz?
— Não, Diogo. Essas aparições, segundo contam os mais velhos, terminaram próximo aos anos de 1680.
— Esquisito isso, por que será que o menino não voltou mais?
— Certa noite, Diogo, segundo Frederico Guilherme, o menino chegou tristonho, das suas mãos ele nunca havia visto sair tanta comida, parecia que ele queria matar a fome de todos por muitos e muitos anos. Naquele dia, e somente naquele dia, enquanto comiam o menino se revelou contando para os prisioneiros, que naquele exato
dia, fazia sessenta anos que havia falecido.
Faleceu de uma doença contagiosa, disse ser filho de um dos
comandantes da fortaleza e que nunca entendeu como seu pai deixou tantas pessoas aprisionadas morrendo de fome, e nos seus próprios desesperos. Desde então, a ele foi concedido o poder de amenizar o mal que seu pai fizera a tantos. Assim, sua missão seria a de ajudar
outros prisioneiros, em igual sofrimento e abandono pelos
sessenta anos seguintes. Um dos prisioneiros indagou ao menino:
— Como ficaremos agora?
O menino, de dentro da sua tristeza, sorriu e respondeu:
— Em breve o sofrimento de todos vocês terminarão,
pois, dentre todos, o primeiro que deixar esta cela receberá
a missão de dar continuidade ao meu serviço.
Os jovens foram conversando, se namorando, se aproveitando daquela linda tarde de domingo.
Do livro “Os Emparedados de Santa Cruz” de Paulo César Coelho.