Cotia - Parte 2

Estes causos fazem parte de uma homenagem ao meu Pai, Afonso Paulo da Silva, o “Cotia”... (Vide Cotia Parte 1).

Capítulo 2 – Cotia e a morte do Baianinho

Naquela tarde, excepcionalmente, deixou os afazeres na fazenda mais cedo. Seu compadre Nico Coura, trouxera a notícia de que Baianinho havia batido com as dez.

Guardou seus apetrechos, como antes fazia, banhou-se na bica da cintura para cima, como de costume, arriou sua mula e fechou a casa, sem antes ingerir um copo lavrado de pinga do engenho.

Saiu devagar e pensativo, tentando alinhar os pensamentos de como seria sua rotina nas tardes que sucederiam, sem a companhia de um de seus melhores amigos.

Fechou a última porteira atrás de si, montou no animal e falou sozinho:

- Aquele filho da puta do Baianinho, não podia fazer isso comigo.

Ao passar em frente a casa de Zé Pelote, outro seu compadre barganhador de animais, famoso por “dar manta”, ou enganar os outros nas barganhas que fazia, decidiu parar.

Após o convite para apear, relatou o acontecido ao compadre, o qual o convidou para tomar com ele uma dose de “Aurora”, famosa pinga da redondeza.

Não tomaram uma dose, esvaziaram a garrafa. Nada mais justo para a ocasião.

Decidiu que era hora de seguir em frente, mesmo porque já estava escuro e o morto ainda estava longe.

Ao chegar na “Turma”, vilarejo onde morava Baianinho, foi direto a sua casa. Notou que só moradores da vila estavam a velar o seu corpo ainda na cama, a espera de um caixão.

Devido ao cansaço e as aguardentes que tomara, resolveu acomodar-se ao lado do defunto a espera de outros irmãos e parentes (dele e do morto) que certamente viriam.

Não deu noutra, pegou num sono pesado como um anjo.

As pessoas iam chegando e saindo e nada do Cotia acordar. Até que lá pelas tantas horas, seu irmão mais velho Dito Silva chegou. Vendo aquela cena e com o quarto cheio de gente, perguntou:

- Afinal de contas, quem é o defunto aqui?!!

A gargalhada foi geral, fazendo com Cotia acordasse um tanto assustado, e sem saber direito onde estava.

Ainda um de seus compadres presentes, por gozação ainda emendou:

- Já estávamos providenciando outro caixão, já que o do Baianinho não serve pra você!.

Resultado: A noite que se seguiu foi uma das mais “divertidas” daquele vilarejo, com muita conversa, cachaça, piadas e recordações, como convinha aquela ocasião.

Mais animação ainda ocorreu na hora do enterro, mais isto faz parte de outra história...