Menino teimoso

Outubro vem chegando e é para mim um mês mais que especial. Justo no dia das crianças nasceu a minha princesinha. E aí, eu me transporto sempre a criança grande que sou.

Então vamos lá.

Quando era menino lá em Barbacena, tô brincando gente, é só uma referência a escolinha do professor Raimundo que também é presente em minha memória. Na verdade a cidade é Ponte Nova que é igualmente nas Gerais.

Que saudade... Ô tempo bão...

Em segundos recordo a casa de meus avós, simples mas eternamente acolhedora. Me situo entre as décadas de 1970 e 80, e mesmo passado longos anos parece que foi ontem que a pacata rua onde moravámos no Rosário, se transformava num alvoroçado "formigueiro" de garotos e garotas que ali buscavam a felicidade cotidiana através de brincadeiras ingênuas, divertidas e criativas, pois virava e mexia inventávamos "moda" como novos piques que nos faziam correr, vibrar, flutuar de alegria.

Falar daquela época é viajar no tempo, é morrer de saudades, é viver de lembranças, que até aqui são as melhores da minha vida. Cresci lá, numa mistura contagiante de amor, carinho, fartura e utopia.

Além de três irmãos tinha uma infinidade de primos já que naquela ocasião na nossa humilde casa não havia televisão e meus tios que não eram poucos de maneira diferente se divertiam do jeito deles... (risos...)

Vovô e vovó eram as referências para todos, cada um com sua relevância, e é deles que carrego esse orgulho pela nossa origem e cultura.

Se alguém me perguntar que lugar eu vejo como paraíso, com toda certeza é lá que afirmo com todas letras, porque nesse mundo que é meu conto de fadas é que pude entender o que é ser feliz desde que me entendo como gente.

De vez em quando, no cair da tarde tinha o prazer de me deliciar com um picolé de pistache, feito na confeitaria esperança dos irmãos Elza e Pitz (eram alemães), embora ela fosse um tanto ranzinza, tinha mãos de fada para criar doces e pães que eram um verdadeiro manjar dos deuses. Nunca mais saboreei um picolé como aquele.

Ainda hoje consigo escutar os ensinamentos dos meus queridos avós que não tinham muito estudo entretanto sobrava conhecimento por atacado.

Foram eles responsáveis pela grande fé que carrego e graças a isso éramos quase que obrigados a frequentar as missas ao domingo na bela e imponente Matriz de São Sebastião no centro histórico. Após, podíamos tomar um guarapan ou mate couro, que são até hoje meus refrigerantes prediletos. É por conta dessa "obrigação" que os rapazes e moças mais novos aproveitavam para trocar olhares secretos e até, às vezes, umas piscadinhas de olhos. Tudo isso escondido, pois respeito era essencial para não levar bronca em casa. Mas acabou que, esse espírito de confraternização ajudou na nossa formação e no círculo de verdadeiras amizades que tenho e que de virtual só tínha os sonhos...

No quintal da casa (não havia energia elétrica) era impossível não se deleitar com a lua refletindo o seu brilho prateado dentro do rio Piranga.

Gostaria de ficar escrevendo várias páginas e histórias daquela época, pois assunto não faltaria. Haviam festas e bailes com música ao vivo, muitos deles animados pela tradicional banda União Sete de Setembro do maestro Juquita, almoços aos domingos com a rica e insuperável culinária típica mineira, aniversários com cajuzinhos e brigadeiros, sem contar com o jogo de futebol no campinho de terra que havia atrás da igrejinha do Rosario, que era nosso verdadeiro estádio onde havia até público para assistir. Enfim, tudo era motivo de alegria, mas como o tempo não pára, nós crescemos e nos tornamos adultos.

Responsabilidade como trabalho e estudo, entre outras coisas se fez necessária e muitos amigos do convívio da minha pequena cidade acabaram se mudando para outras mais distantes e alguns partiram para novas dimensões, fazendo aquela convivência se dissolver um pouco.

Mas como sou teimoso não largo esse eterno guri que existe em mim. Nessa minha memória apaixonada pretendo ir um "cadin" mais longe até virar aquele menino teimoso, afinal de contas ouço sempre por aí que quando ficamos velhos nos tornamos crianças novamente.

Inté...

Antônio de Magalhães
Enviado por Antônio de Magalhães em 23/09/2021
Reeditado em 10/09/2022
Código do texto: T7348598
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