UMA COBRA NA MINHA MOCHILA
 
Estamos no ano de 1968. Eu contava com 25 anos, e estava no auge da minha carreira como lutador cênico. Seguidamente nossa trupe, que se apresentava no canal de televisão local, quero dizer da cidade de Porto Alegre/RS onde as transmissões eram remetidas para quase todo o território gaúcho. Algumas vezes nossa equipe de lutadores era designada para fazer shows ao vivo em outras cidades do nosso estado.
 
Lá íamos nós com o grupo para uma dessas apresentações e sempre no decorrer da viagem, gostávamos de fazer a nossas brincadeiras mútuas, para tornar a nossa viagem menos cansativa.  
 
Chegamos ao local da nossa apresentação, e os lutadores eram separados pelo empresário, ou seja, bandidos num lado e mocinhos no outro.
 
 Quando eu cheguei ao vestiário, para trocar a minha roupa pela indumentária artística, mas ao abrir a minha mochila, verifiquei que ela não estava de acordo como eu havia colocado os meus pertences - acho que os meus queridos companheiros de lutas devem ter aprontado alguma coisa com a minha mochila – tenho que pensar, mas enquanto eu pesavam notei nas caras dos outros lutadores, aquele sorrisinho disfarçado demonstrando que haviam feito alguma maldade.
 
 Então eu resolvi abrir a mochila com os devidos cuidados, quando me deparei com uma cobra ali enrolada bem quietinha – bem eles não iriam colocar uma cobra na minha mochila, pois o perigo poderia ser desastroso – claro só pode ser uma cobra de mentirinha para assustar-me, pois as cobras falsas se parecem muito com as legítimas.
 
Pensei, vou pegá-la e atirar em cima deles, dando continuidade á brincadeira – espere, mas parece de verdade - pois os lutadores que já não são muito certos da cabeça e depois de algum tempo lutando podem até piorar, e quem sabe eles colocaram uma cobra de verdade na minha mochila.
 
Não só pode ser de mentira. Então fui cautelosamente, ate para eles pensassem que eu estava morrendo de medo e peguei o mostro falso, com o intuito de jogar nos meus colegas, e não é que era de verdade, o bicho começou e a se serpentear na minha mão, o coração disparou, eu dei um salto para trás e joguei a cobra para me libertar, pois não deu tempo para pensar e nem coragem para direcioná-la nos outros lutadores.
 
Como meus queridos companheiros de luta, já tinham combinado a traquinagem, tiraram o maior sarro da minha cara, e como a cobra não me mordeu, eu tive que registrar a brincadeira. - registrar para nós lutadores, é quando um lutador durante a luta aplica um golpe traumático no antagonista, e este registra, ou sente a dor do golpe.
 
Assim eu tive que ficar na minha, pois como já falei as brincadeiras são mútuas, e depois tem a volta. Mas brincadeiras com cobras de verdade, nunca mais teve, ou talvez porque não houve mais um encontro com um outro ofídio. Por sorte de alguém.
 
Scaramouche
Enviado por Scaramouche em 22/09/2021
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