PROSPERIDADE SEM OSTENTAÇÃO

Gerusa era bisneta do grande produtor de laranja, o fazendeiro Tarsílio Duarte. Ela conta para o seu filho, o amoroso Renato, a história do bisavô. O jovem curioso ficou estupefato em saber que a Nova Iguaçu dos anos 40 era conhecida como Cidade Perfume devido ser a maior produtora de laranja do Brasil. Foi a sua professora de História quem lhe contou, e o rapazinho chegou em casa e disse para a mãe o que aprendera na aula. Gerusa era viúva e morava só com o filho. Naquele dia fatídico, Renatinho vinha na van escolar, e seus coleguinhas e o alegre motorista Romildo o acharam bem quieto e com o semblante triste. Na verdade o garoto parecia adivinhar que seu pai havia partido, não suportando a doença degenerativa. Renatinho chegou em casa e correu pra abraçar a mãe. Gerusa tinha acabado de chegar do Hospital da Posse. Renato, que era uma criança esperta e agradável, prometeu cuidar da mãe e ajudá-la.

Os dois eram muito unidos, e vê-los assim era algo muito comovente. Renato gostava de ouvir a mãe contar histórias sobre a família. Ele disse pra mãe que o assunto na aula de História foi sobre a Nova Iguaçu de outrora, a dos laranjais. Falou que, durante a aula, contou pra professora que era descendente de um dos maiores citricultores da cidade, Tarsilio Duarte.

Relembrar a história, seja de pessoas ou lugares, é tornar vivo o sentimento que o tempo feliz pode ser revivido. Não podemos voltar ao passado, mas podemos fazer com que a nossa vida atual se coloque no céu da esperança e não se contamine com a desesperança.

Nova Iguaçu dos áureos tempos dos laranjais era uma cidade próspera, o perfume das laranjas se confundia com o perfume das moças elegantes que amavam serem donas de casa. Gerusa conta pra Renato que sempre ouviu história hilárias de seu bisavô. Ele era português, era um visionário, se estabeleceu na Serra do Tinguá. Tinha o dom de negociar, gostava muito de guardar dinheiro. Casou com uma jovem muito bela, dezesseis anos mais nova. Elenice não se incomodava por não ser paparicada nem a todo momento presenteada pelo marido. Na época, as mulheres não assustavam os maridos com gastos exorbitantes. A vida era simples. Tinha fartura, prosperidade mas não tinha ostentação. A maior riqueza era o amor de verdade no coração. Era a família, a união.

Feliz de quem viveu essa época, mas como eu falei temos hoje uma oportunidade de construir uma vida bem melhor, cada um de nós deve parar de reclamar, e concretizar o sonho de uma vida melhor. Mas, voltemos a falar da família de Gerusa. Seu Tarsilio ganhou muito dinheiro, comprou uma fazenda próxima da Estrada Caminho Real, a estrada construída pelos escravos no Brasil Colônia, que ligava Minas Gerais até Paraty. O caminho onde o ouro passava até chegar ao antigo porto localizado na cidade do Sul Fluminense

Seu Tarsilio, quando fazia uma grande venda, se reunia com outros fazendeiros no bar da Praça da Liberdade para comemorar. Nova Iguaçu era a cidade mundial da Laranja! Hoje em dia este título está com Araraquara e região, no Estado de São Paulo. Gerusa infelizmente não alcançou esse tempo, mas ama a fruta. Ela convenceu seu falecido marido a comprar um sítio em Marapicu, na estrada de Madureira, caminho de quem vai pra Estação de Tratamento de água do Rio Guandu.

Lá no sítio, plantaram muitos pés de laranja. Renato adora passar finais de semana lá. Agora, depois que seu pai morreu, mais do que nunca ele adora estar lá.

Ele sente a presença do pai naquele lugar bucólico perfumado de laranja.

Gerusa termina de contar ao filho a história de Nova Iguaçu.

Nos anos 50, a praga assola os laranjais. Muitos amigos de seu Tarsilio se entristeceram, alguns chegaram ao cúmulo de tirar a própria vida. Outros, investiram noutros ramos: o cinema era um negócio promissor, em alta devido aos grandes lançamentos da Atlântida e também de filmes de Hollywood. Seu Tarsilio não se abalou, pois a sua maior riqueza estava na família, na sua companheira e seus filhos. Principalmente em Deus, pois ele tinha uma linda comunhão com o Altíssimo. Para as quermesses da Igreja ele sempre doava muitas laranjas e outras frutas como melancia, melão. Os melhores produtos era para as festas que visava arrecadar recursos para a melhoria do templo. Seu Tarsilio honrava à Deus, e teve uma vida próspera. E outra maior riqueza foi esse exemplo que ele passou para os seus. Gerusa conclui com uma lição para o filho: Tudo passa, os títulos, as conquistas, as perdas, a doçura, o azedume, os altos, os baixos... Mas nós não podemos olhar para o que passou com sentimento de tristeza. Cada momento da vida reflete um aprendizado. A nossa história é construída por etapas. Hoje sabemos mais do que ontem.

E o que nós não sabemos o amor ensina. Com amor e sabedoria superamos as adversidades!

Mãe e filho se abraçam após tomarem um suco de laranja bem geladinho.

( Autor: Poeta Alexsandre Soares de Lima )

Poeta Alexsandre Soares
Enviado por Poeta Alexsandre Soares em 20/09/2021
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