AS CACHORRADAS
QUE ME FIZERAM
 
Eu estava com 65 anos quando a minha cadela, uma linda Dálmata, que foi a companhia de nossa família, durante os 13 anos que conviveu conosco, quando ela faleceu. Muitas pessoas têm suas estórias com cachorros, e eu me incluo nelas.  Eu e minha família, começando por parte dos meus pais, sempre tivemos intimidades com a raça canina. Tivemos muitos cachorros ao longo de nossas vidas, que teriam várias estórias que envolveriam somente os cães. Já citei os meus cães mais antigos que me marcaram muito. Foram o Petico, Uruguai, e o Astor.  Mas para exemplificar e citar algumas delas preparem suas emoções caninas.
 
Meu pai era muito apegado aos cães, mas também já teve um sagüi e papagaio. Quando um cão falecia, ele chorava copiosamente a perda, parecia que o sofrimento não teria fim.  Ele procurava ensinar os cachorros da sua moda, pois não conhecia técnicas próprias.
 
 Ele tinha um papagaio e colocava no chão e ele vinha direto para a sua mão espalmada mesmo outras pessoas com suas mãos espalmadas junto à dele, mas o bicho só subia na sua mão. Meu pai gostava muito dos cachorros fox que ele dizia ser cão muito inteligente.
 
Nós morávamos num sobrado, mas sobrado fica muito pomposo, na realidade, era uma casa de madeira que tinha na parte de baixo a cozinha e o lugar para as refeições. De manhã quando meu pai levantava, e se encontrava na cozinha, tomando o seu chimarrão,  mandava o nosso cãozinho subir as escadas e dizia o nome do dorminhoco que ele deveria acordar. Pois ele ia direto somente à cama que lhe foi anunciado.
 
 Os cãezinhos ficam também nas patas traseiro ou sentado. Quando nós estávamos comendo e de repente olha ao redor e tinha um cão sentado nas patas traseiras, com o intuito de solicitar comida. Não tinha como não oferecer algo comestível com aquela cena. Coisas acontecidas Lá pelos anos de mil novecentos e cinqüenta e poucos. Quando morávamos na rua Cel. Lucas de Oliveira, em Porto Alegre.
 
Nessa mesma época timos o Dick, que era um cão muito bravo. Seria mestiço com pastor alemão, mas era mais parecido com um lobo. Quando eu ia dar comida para ele, sempre ficava rosnando com ar ameaçador. Eu colocava a comida e saía correndo.  
 
Uma vez ele ficou bravo comigo, porque ele saiu à rua me acompanhando e um carro na passagem, lhe bateu levemente, mas ele acredito eu, pensou se é que cão pensa, que eu é que tinha batido nele. Ficou de mal comigo e não me deixava entrar do portão para dentro, assim ficou alguns dias quando eu chegava a casa tinha que toca a campainha para segurarem a fera a fim de que eu pudesse entrar, na minha própria casa. Mas fui reconquistando a amizade e ele acabou me permitindo entrar em casa sem correr perigo. Aprendi que um cão pode também como os humanos ficar de mal com a gente, e depois a amizade ser restabelecida. Este foi um caso real.
 
Numa vez eu e meu cachorro bravo cachorro Dick estávamos brincando e eu queria levá-lo dentro de um carrinho de mão, ele não queria, rosnava, eu insistia e ele continuava me avisando, como se falasse eu não gosto dessas brincadeiras, pare com isso. Eu insisti e não demorou muito e o Dick avançou-se sobre mim, me pegou pelo pulso, cravando os seus poderosos dentes superiores e inferiores, e só largou quando o meu pai que estava próximo veio em meu favor. Então ele largou-me com a o pulso e me atacou no joelho, mas não conseguiu abocanhar, mas deixou uma macha roxa como recordação.
 
Fui direto para o Pronto socorro, e uma sutura feita com oito pontos, cuja marca ainda tenho, ficou como lembranças. Mas continuávamos amigos, afinal fui eu que o deixei irritado. Temos que entender os bichos. Eles tentam se comunicar com a gente, ao seu modo. Nós aprendemos a falar outras línguas, mas ficamos devendo a língua canina.
 
 Quando eu viajei fora do Brasil nos anos de 1970.  Uma das minhas saudades era do meu cachorro Dick. Minha mãe tirou uma foto dele e me mandou para Lima, mecheu comigo e me encheram os olhos de lágrimas. Quando voltei, ele não me reconheceu de imediato e fiquei com um pouco de medo, ele me olhava desconfiado, queria me conhecer, mas não se lembrava, ficou um tempo indefinido e eu o acariciando com cuidado. Mas de repente ele me reconheceu, começou uma grande festa se urinou todo pela alegria, e continuou sendo o meu amigo, me lambendo e pulava em cima de mim.  Apesar da mordida. Que ele deve ter se arrependido ou quem sabe esquecido.  
 
Tem mais essa do Dick. Quando resolvemos nos mudar, o caminhoneiro foi buscar os moveis. Então eu falei para o motorista, o meu cão é muito bravo, vou amarrá-lo para não causar problema. Ele disse-me assim: não te preocupe, pois, eu me dou bem com cachorros e não tenho medo, fez questão conhecê-lo, colocando a mão em sua cabeça: viu só já somos amigos, pode deixá-lo solto. Foi o que eu fiz, cada tralha que ele levava ao caminhão e o cachorro ia atrás abanando o rabo.
 
Tudo corria tão bem, mas no terreno lateral a nossa casa que estava vazio, o motorista viu alguma coisa que lhe chamou a atenção, e resolveu apanhá-la. Para fazer isso ele teria que pular o muro lateral, e quando ele tentou fazê-lo o cachorro percebeu e o buscou pela perna. Mais uma vez Pronto Socorro para fazer o curativo, e volto a dizer a gente tem que conhecer o lobo, ou melhor, o cachorro, para conhecer suas reais intenções.
 
Quando o Dick estava mais velho, apareceu um câncer na região das nádegas. Então nós o levamos para a escola de Veterinária para ser submetido a uma cirurgia. No dia seguinte a operação, fui visitá-lo, e ele estava bem disposto. Então combinei com o médico de ir buscá-lo no dia seguinte, mas quando lá retornei, o animal havia morrido e já tinha sido cremado. Mais uma vida que vai, pois cada vez mais nos convencemos que a vida e finita, e novas vidas vão renascendo. Mas fiquei sem o meu cão, e mais um pouco de tristeza, que o tempo acaba arrumando.
 
Quando morávamos na Rua 12 de Outubro, no Partenon, nós tínhamos dois cachorros, um era um Boxer, chamado de Astor e o Outro era quase   Dick. Anteriormente referido.
 
É surda, ou não entendeu.  Um dia chegou pela primeira vez uma senhora para fazer alguns serviços domésticos. Os cães latiram para ela que ficou muito assustada, com os tamanhos dos marmanjos, então eu falei: não se preocupe que vou atá-los, e ela me disse: não, não precisa matá-los por tão pouca coisa.  Então e falei novamente: não, eu vou é atá-los, e ela novamente: não faça isso, não é preciso matá-los, os cães são bons para cuidar da casa. Então eu pequei as guias e os amarrei junto a casa deles, e perguntei: assim ta bom? E ela agora sim amarrá-los foi a melhor idéia. É BOM PARA A CONVIVÊNCIA, QUANDO NÓS FAÇAMOS TUDO PARA NOS ENTENDER.
 
NÓS tínhamos muito carinho pelo nosso cão Boxer, chamado ASTOR. Ele era muito dócil e brincalhão. Tinha uma deficiência física, pois não enxergava de um olho, mas nós tínhamos acostumados com ele mesmo com aquele olho branco e sem vida. Até porque nós quando o adotamos, ele era assim.  
 
Nós queríamos ter um filhote com o nosso Astor e uma cadela Boxer que vivia próximo a nossa casa. Quando a “cadela da vizinha” estava no cio, mandou-nos avisar, para que nos levássemos o nosso cão ao encontro marcado para o acasalamento. E lá fomos com o nosso cão machão, com a idéia de conseguir a nossa cria almejada.
 
 Até ficávamos imaginando aquela ninhada de cãezinhos mamando na sua mãe. Passado alguns dias, trouxemos o nosso cão e perguntamos para ele: tu fizeste um bom serviço Astor: e ele balançou o rabo como se dissesse sim: ou estão pensando que eu não dou mais no coro.  E nós acreditamos e já estávamos imaginando o nosso Astorzinho.
 
Passando algum tempo a menina Boxer, tinha ficado grávida. IUUU. Aí cumprimentamos o Astor pela sua grande masculinidade. Em seguida vieram os cãezinhos, fomos todos apressados e comovidos, para ver. Mas como!  todos eram pretos e tinham os focinhos ainda compridos. Então perguntei a mulher: será que vão mudar de cor e os focinhos vão ficar chatos: eu acredito que sim. Disse-nos ela mas com cara também de desconfiada.
 
 Bem como eu não tinha visto filhotes de Boxer antes, achei que era assim mesmo. Mas resolvi fazer outra pergunta: a senhora tem certeza de que não entrou nenhum cachorro preto no seu pátio: não o pátio é bem fechado, e não tinha como entrar nenhum outro cachorro, eu mesmo cuidei. Mas e esse minúsculo cachorrinho que está ai no seu pátio? Há esse á meu, mas ele não tem tamanho para cobrir uma Boxer. AIAIAI.
 
Que nada os cãezinhos continuaram pretos e com o focinho comprido, e eram filhos legítimos, nem precisava fazer DNA do pequeno cão pretinho e amigo da cadela Boxer, acho até que já eram amantes.  Que vergonha seu Astor, nunca mais te levo para cobrir nenhuma cadela.
 
Scaramouche
Enviado por Scaramouche em 20/09/2021
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