Somente para seus olhos
E estando certa vez visitando o professor Foster no Museu de História Natural, perguntei-lhe o que de mais absurdo já havia acontecido no âmbito da sua profissão.
- Bom... isso não aconteceu comigo, - relatou ele - mas com um colega, Pendleton, que era o curador de uma exposição sobre "A Vida Secreta dos Nossos Antepassados". Ele havia dado uma entrevista para um jornal local, falando sobre algumas peças que seriam exibidas, dentre elas uma carta de amor que jamais havia sido enviada pelo signatário, datada de 1836. A carta foi descoberta mais de 100 anos depois, num sótão, juntamente com outros pertences desta pessoa, um inquilino do tataravô do homem que doou o material para o museu local.
- E o que tem isso de estranho?
- Então... - prosseguiu o professor - a carta ficou guardada no acervo do museu por mais de 70 anos, até ser relacionada para apresentação. Pendleton leu alguns trechos para o jornalista, e a matéria no jornal foi publicada uma semana antes da abertura da exposição. Ocorre que dias depois, ele recebeu uma ligação no museu, de alguém que questionava o direito deles em exibirem a peça.
- Era um descendente do signatário? - Ponderei.
- Não - Foster abriu um sorriso. - Era o próprio signatário.
Franzi a testa, incrédulo.
- Você pode ou não acreditar, mas Pendleton me disse que ele leu o último parágrafo da carta... como se o soubesse de cor.
- Fosse lá quem fosse, poderia ter uma cópia... ou ter tido acesso ao documento original no acervo do museu - repliquei.
O professor abriu as mãos.
- Seja lá como for, Pendleton foi sensível ao apelo. E retirou a carta da exposição.
- Sob qual alegação? - Questionei estupefato.
- Que os descendentes da mulher a qual se destinava, poderiam estar ainda vivos e se sentirem melindrados com a publicação da mesma.
Ergui os sobrolhos.
- Melhor do que afirmar que o signatário não havia morrido, não acha? - Redarguiu ele.
- [18-09-2021]