AVENTURA DE LUTAS
NO PERU E BOLIVIA
 
Em l970, Eu estava ansioso por conhecer outros lugares, outras amizades, e outros povos. Conheci por carta um empresário de Lima no Peru, o qual me convidou para participar da temporada de lutas cênicas que lá acontecia. Eu já estava decidido, era solteiro, recém tinha me desligado da Olivetti, convidei um amigo para irmos juntos nesta aventura, só que ele desistiu, e eu que já estava com o passaporte pronto, e o entusiasmo melhor ainda, me despedi da minha família, dos meus amigos do cachorro Dick. E uma das minhas amigas encomendou-me - quando tu voltares do Peru, traga um Peruano para mim - fica tranqüila que eu trarei um. Quando eu voltei casualmente, veio junto um peruano, que passou alguns dias em Porto Alegre. Eu o levei e apresentei para a minha amiga, aqui está o Peruano que tu me encomendaste. huaaa Consegui com meu empresário de lutas, uma passagem aérea até Corumbá, pela empresa Cruzeiro do Sul. De lá eu seguiria por terra, passando pela Bolivia até a capital Lima. Fizemos uma escala em São Paulo, mas tive uma surpresa, quando fui retirar as duas malas, uma havia desaparecido. Fui à agência da Cruzeiro do Sul, e eles me aconselharam seguir a viagem até Corumbá, e lá esperar pela mala. Fizemos uma escala em Campo Grande, e chegamos a Corumbá, onde o clima marcava uns 40 graus positivos. Hospedei-me em um dos hotéis, e fiz o contato com a agência de viagens à procura da minha mala. Em resumo fiquei de turista por conseqüência, durante uma semana, tomando banho no rio que corta a cidade, na espera da mala. Apesar de eu estar longe da minha terra, achei lá ninguém iria me reconhecer, mas de repente uma pessoa gritou para mim: “oi Scaramouche que anda fazendo por aqui “ Pois não é que lá eu tinha um fã. Após uma semana a mala desaparecida foi encontrada e me devolvida. Guardei todas as notas das despesas de uma semana, curtindo Corumbá, e a Cruzeiro do Sul em Porto Alegre, após minha volta do Peru, me ressarciu. Após esta pequena aventura da mala perdida, e após a burocracia e carimbos no passaporte, eu estava embarcando de Corumbá, através de um trem com dois vagões, chamado Litorina para Santa Cruz de La Sierra, na Bolívia. Era um trem que andava inicialmente pelas selvas, e em cada parada, vinham bolivianos campesinos nos vender, artefatos artesanais e comidas. Eu viajava bem na frente, próximos ao condutor, de repente surge à frente de nossa locomotiva, uma matilha de cavalos, atravessando os trilhos, sendo que um deles que estava mais atrás, não teria como desviar da locomotiva, olhei para o maquinista e ele estava tranqüilo em contraste com o meu pavor. Ele simplesmente passou por cima do cavalo, e a locomotiva seguiu em frente rumo ao seu destino. Foi um momento ruim ver a cena e imaginando o cavalo sendo triturado em baixo do trem, mas era isso mesmo o procedimento correto, o cavalo morreu muito rápido, e uma freada iria colocar as vidas das pessoas em risco. Chegamos à Santa Cruz de La Sierra, cidade vivida pela maioria de campesinos. Hospedei-me num hotel onde havia mais umas dez pessoas no mesmo quarto. Ali conheci uma equatoriana, que iria fazer o mesmo trajeto pretendido por mim, até Lima e depois para o Equador. Foi um encontro interessante, pois havia com quem conversar, e dar continuidade do meu aprendizado do espanhol. No outro dia fomos à estação para o embarque até La Paz. Tinha um ônibus na frente da estação, tão velho caindo aos pedaços, e eu imaginei, deve ser um daqueles veículos que vai para as estradas do interior. Ao perguntar a um funcionário da estação quando chegaria o nosso ônibus internacional para La Paz, ele me disse: é aquele que você esta olhando com curiosidade. Hein? Você está brincando? Não estou não. É era mesmo o ônibus que eu estava debochando. Bem não tinha outra escolha, e o pessoal foi se amontoando, e depois de estarem todos sentados, foram colocados pelos funcionários, cadeiras entre os bancos, não permitindo que alguém sentado atrás ficasse possibilitado de se locomover para frente do ônibus. Uma zorra total de gente amontoada. E assim fomos nós, de início tudo bem, tudo parecia festa e divertimento, só que depois de algumas horas de solavancos, o ônibus parava descia alguém, e subiam outros. Ai subia com, porcos, galinhas, verduras etc. O motorista tinha saquinhos para vomitar, pois os solavancos e as curvas pediam esta técnica que era comum. Mais um saquinho lá atrás e vinha de mãos em mãos até chegar o destino. A zorra, virou zorra total. Esta foi sem dúvida a viagem mais louca que participei. Aconteceu de tudo que é difícil mencionar, até dor de barriga dava, além do mau cheiro dos bichos e da própria gente, teve uma pessoa que evacuo dentro do ônibus, o qual foi obrigado a parar em um lugar próprio, onde todos desceram para ser procedida uma lavagem interna, a fim aliviar o cheiro que se tornou insuportável. Ai eu fiquei entendendo o porquê daquele ônibus, caindo aos pedaços. As curvas e montanhas eram horripilantes, em cada curva haviam cruzes pelas mortes acontecidas. Quando vinha algum veículo, um teria que parar e o outro tinha que fazer manobras incríveis para acontecer à ultrapassagem. Apesa de tudo chegamos são e salvos em La Paz. A cidade é num buraco, e o ônibus descia fazendo curvas até chegar à cidade. Providenciamos mais papeladas e carimbos no passaporte e nós pegamos outro ônibus não muito diferente do primeiro, e que nos levaria para Lima, no Peru. Mas eu já estava acostumado com a velharia dos ônibus. Era outra viagem interminável, através de curvas, precipícios, por terras sem mata e com muitas paisagens diferentes das que a gente vê pelo Brasil, quase um deserto. Grande parte passamos pelo lago Titicaca, que é considerado um lago de grandes extensões e o mais alto do mundo. Fica nas fronteiras do Peru com a Bolívia, como uma piada entre eles, os Peruanos dizem que titi e do Peru, e os Bolivianos dizem que Caca é da Bolívia. Como eu viajava solo, aproveitei para conversar com os demais viajantes e principalmente com a minha amiga Equatoriana, e continuar com minhas aulas de espanhol. Estava muito frio, e o ônibus parava em lugares que nos serviam comida, e normalmente eram sopas bem quentes e apimentada. Depois de muitos solavancos e passar por estradas traiçoeiras pelas curvas, e precipícios, chegamos finalmente em Lima. Meu sonho de chegar estava concluído. Com o advento da internet, eu recebi um e-mail falando das vias de transportes mais perigosas e estreitas da América do Sul, e suas conseqüentes mortes pela precariedade de estruturas na área de engenharia, e eu passei por uma delas, e cheguei a Lima vivo. Estando em Lima, tive que tomar um táxi para ir até o local de minha hospedagem, que se chamava Pension San Martin, e ficava na Plaza de Mayo, que era composta por prédios antigos, formando um octângulo, bem no centro de Lima. Como o taxista não tinha troco, fomos a um hotel bem próximo da Pension San Martin onde conseguimos trocar cem dólares. Só que o taxista após ter ido ao hotel, e que era de interesse dele, que não tinha troco, queria cobrar mais 50% do havíamos combinados. Já cheguei sendo roubado, mas paguei o que tinha combinado e apanhei as malas do carro, com vigor encarei o taxista e disse para ele chamar a polícia, que eu estava naquele endereço. Felizmente ficou somente no bate-boca.
PRUDÊNCIA AO CONFIAR
Scaramouche
Enviado por Scaramouche em 15/09/2021
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