RUMO AO FUTURO
Meu pai estava trabalhando em Porto Alegre/RS na função de pedreiro. Depois de ter sido fixado no emprego, mandou buscar a família em Passo Fundo. Eu estava completando 12 anos de idade e juntos com os outros irmãos, e mais a minha mãe, tomamos um trem de passageiros, denominado de Maria Fumaça. Destinamo-nos para a capital. Lembro que quando chegamos à cidade de Canoas, havia uma ponte em conserto, onde o trem foi forçado a parar por um bom tempo. Deram-nos um bilhete de seguro, antes de o trem passar na ponte. E passamos. Não usamos o bilhete de seguro. Que bom. Fomos morar em peças alugadas na Rua Baronesa do Gravataí. E depois nos transferimos para a um apartamento na Rua Gomes Jardim, e posteriormente para a Rua São Francisco de Assis, no Partenon. Meu pai gostava de tocar acordeom, mas daqueles sem teclas, mas com botões em ambos os lados, que eram chamados de gaita com botão ou escala reta. Suas músicas tinham a denominação de reúna, pois eram tocadas de ouvido e aprendido com outros músicos e tinham uma derivação na sua execução, conforme iam passando de um músico para outros. Ele até tocava em bailes nos arrabaldes de Passo Fundo. Como ele gostava de música, queria que algum filho tocasse acordeão, então, eu fui o escolhido para desenvolver esta tarefa, e dar continuidade do seu lado musical. Eu não tinha vocação para ser músico, mas lá estava eu matriculado numa escola de música. Naquela época, eram professores que ministravam aulas nas suas próprias casas. Usando de muito esforço aprendi a tocar algumas músicas, e ficou implantado em mim um gosto pela música, apesar de não ser o que eu buscava e não ser também a minha vocação. Aprendi e foi numa época em que “em terra de cego que tem um olho é rei”. Já tinha um repertorio constituído de umas 20 músicas, e já tocava em alguns bailes caseiros e era considerado uma raridade. Quando alguém tocasse uma gaita como era chamado os acordeões, fazia o seu nome na praça. Só que eu parei no tempo, pois como já havia dito, não tinha vocação para ser um artista do acordeão e com o advento de músicos de verdade que vinham crescendo em números e qualidade, a minha estrela começou a ficar opaca, sem brilho, e me tornei um gaiteiro que o máximo que conseguia era ter sucesso com meus familiares e parentes que sempre aplaudiam as minhas façanhas. Gente bondosa que se contentavam com pouco, por ter um familiar tocante, e próximo. No futuro eu aprenderia mais outros instrumentos, como percussões, e flauta doce, flauta pífaro ou transversa e flauta pan, e com isso dei umas férias para o acordeão. Mas espere, não o abandonei integralmente, e raramente fazia aquelas teclas chorarem um pouco para matar as saudades antigas daquele namoro. Na realidade tocar flauta, seria como uma forma de me distrair para a vida, e uma maneira de fazer com que a música me envolvesse naqueles momentos, em que somente tocando flauta eu me sentia mais em paz comigo mesmo e com o mundo. O aprendizado da flauta aconteceu muitos anos depois. Com treinos muito duros, com muitas horas de práticas, principalmente por ter sido de uma forma autodidata. Também contei com auxilio de partituras, que aprendi na época do acordeão. Mas as coisas conquistadas com dificuldade parecem que possuem uma alacridade a mais. Sempre é bom fazer aquilo que a gente gosta, mesmo sendo por vezes, percorrendo caminhos difíceis. Que torna a nossa conquista mais agradável. Continuei os estudos num colégio próximo a nossa moradia. Já sentia algum jeito para desenhos, tanto que a própria professora, me pedia para fazer os desenhos “infantis” com o intuito de ilustrar a sala. - Já tinha resquícios de artes latentes. - Acabei me transferindo para o Colégio Inácio Montanha onde terminei o estudo primário. Logo iniciei o ginásio, no tempo em que aprendíamos, além das outras disciplinas, as línguas, latim, inglês e Francês, mas parei antes de completar o ensino fundamental. Não me orgulho de ter abandonado os estudo, principalmente na época em que valia a pena estudar, mas são coisas que a gente não sabe propriamente o porquê. Mas na realidade eu não era muito para as disciplinas das escolas, mas sim com tendência autodidatas, e querendo aprender de tudo um pouco, e se eu me focasse numa especialização e seria um especialista, mas seria frustrado por não ter aprendido as coisas que eu realmente queria aprender. Talvez uma influência gerada geneticamente pelo meu pai que era considerado um faz tudo. Fui mesmo, é seguindo o rumo da vida, sem ter a certeza do que realmente eu queria, mas eu queria aprender coisas, fui e sou muito feliz, pois a vida me trouxe bastantes alegrias. Hoje eu acho que fazer, até o estudo fundamental, é uma opção, importante para o crescimento individual e melhor encarar o mundo, mas para seguir em frente, sim devem ser levadas várias condições, como, querer, possuir condições financeiras, ser inteligente, e não ser apenas uma aventura a mais uma frustração ou ver somente o lado financeiro. Se todos fossem escolados, quem iria varrer a calçada para tornar o mundo mais limpo, ou mesmo quem iria tocar flauta. O mundo precisa de todos os tipos de serviços, e uma bela profissão executada com competência e bem prestada, tem os seus valores, para si e para a sociedade como um todo. E o mundo necessita de todas as funções para ter um equilíbrio, até dos que não estudam. Foi tentando compensar minhas falhas de abandonar os estudos, que acabei me tornando um profissional daquilo que eu escolhi e que gostava, de executar. Transformei dois hobbyes em profissões. Um foram as Artes Marciais, onde trabalhei por uns 35 anos e o outro foi na qualidade de escultor, que atuei por uns 20 anos. Acabei preenchendo uma lacuna na minha vida, e uma grande realização profissional e encontro comigo mesmo. Será que eu teria feito à carreira que fiz, se me tornasse um estudioso, ou estaria em outra área possivelmente. Ninguém sabe. Mas não se pode mudar o que ocorreu. A vida se apresentou assim, e sou muito feliz assim, até onde cheguei, por enquanto, aos setenta anos. Afinal tivemos um mandatário do nosso país, sem ser formado, e comandava uma turma de formados. E assim tivemos também um parlamentar, que teve que prestar exames para tirar a dúvida se era analfabeto. - E Passou. - E Também terá dentre os seus subordinados, muitos formados. São realidades da vida, que não podemos negar. Mas podemos dizer são pessoas mais sábias do que o colégio poderia lhes ensinar. A vida toma algum caminho, e a gente tem é que administrar bem esse caminho que se apresentou. O importante, é que a ela nos traga felicidades, e que seja útil para a nós e também para outras pessoas. Assim eu me sinto. Nós não podemos ter vergonha da vida, mas devemos ter vergonha do que fizemos errado na vida.
A VIDA SÓ PODE SER COMPRENDIDA, OLHANDO-SE PARA TRÁS, MAS SÓ PODE SER VIVIDA OLHANDO-SE ADIANTE. (Kierkegaard)
A VIDA SÓ PODE SER COMPRENDIDA, OLHANDO-SE PARA TRÁS, MAS SÓ PODE SER VIVIDA OLHANDO-SE ADIANTE. (Kierkegaard)