MINHA JUVENTUDE
EM PORTO ALEGRE
EM PORTO ALEGRE
Quando eu vivia lá pelos meus 18 anos eu punha uma calça com boca de sino, mas tinha que ser com boca grande, até parece que e gente competia qual era o tamanho maior, e até tinha que arrastar no chão, e com o tempo a boca da calça ficava suja e roída pela ação do andar. Colocava uma camisa volta ao mundo ou de banlon. Cabelos eram quase todos grandes. Uma melena para chamar a atenção, o meu cabelo era encaracolado, tipo Black Power. Eu era um bom freqüentador dos bailes, que era uma das poucas opções que os rapazes da minha idade faziam. A minha freqüência, era nos clubes: Independente, Caminho do Meio, Ação e Progresso, que eram os que se situavam mais próximos à minha casa, no bairro Petrópolis. Eu era também sócio da Sogipa onde era comum freqüentar a reuniões, bem como me encontrar com amigos nos finais de semana na área esportiva do clube, “que ainda não tinha a nova sede campestre” além de freqüentar outras aglomerações dançantes. E porque não dizer da raras vezes que dava um pulo nos bailes da Reitoria, onde tocava o conjunto Norberto Baldauf executando aqueles boleros, românticos, que eu considero músicas para sempre. Eu e a minha esposa ainda continuamos a dançar essas românticas e apaixonantes músicas. Eu ainda usava a brilhantina, para dar aquele charme na melena e ficar “parecido” com o Elvis Presley. Naquela época nós tirávamos as gurias para dançar, e quando nós ficávamos durante todo o baile com a mesma guria, os amigos perguntavam com quem tu ficaste durante o baile, ou seja, já existia o termo FICAR, muito usual hoje em dia. O coração batia mais acelerado, quando a gente fazia menção de tirar alguém. Era considerada uma ousadia, e às vezes a gente apostava: quero ver se tu tiras aquela guria bonita ali sentada: e ai eu ia com o coração palpitando e o medo de levar um CARÃO, isto quer dizer se a menina não correspondia a “nossa tirada” se recusando a dançar, que também era considerado um papel feio dar um carão. Para mim era uma tarefa difícil, pois e vim do interior e ainda era um cara meio que indomado pela vida de grosso ou caipira, que era como os da cidade se referiam aos vindos de fora. Então o encarregado de tirar a moça, voltava tremendamente envergonhado se levasse um carão. Era considerada uma aventura, mas quando nós conseguíamos ter sucesso, dançava com o rosto colado, e com o corpo bem apertado, quando era correspondido, diferente dos dias de hoje, onde existe um amontoado de gente pulando e gritando. É as coisas mudaram. A Música que na época não era alta, mas sim suave e dançante, parava a cada composição e dava tempo do par conversar um pouco, e o cara dar aquela cantada na guria. Então começava outra canção, sempre com músicas bem selecionadas pelo bom repertório, bem diferente do som apresentado hoje com os conjuntos e bandas competindo pela quantidade de Wats, com um repertório tão grande que não conseguem agradar a todos. Eu não consigo identificar uma boa música que nós antigamente desfrutávamos e até hoje ainda são tocadas com sucesso, pois eram músicas de verdade e que continuam até nos dias atuais. Nos na época da nossa juventude, podíamos combinar um passeio no domingo, e ir como? Pegando um Bonde. Lembram dos Bondes? E ir a um dos grandes e saudosos cinemas que tinham na época, como: Cacique, Vitória, Marrocos, Guarani, Carlos Gomes, Garibaldi, Capitólio, Presidente e tantos outros, para apreciar os filmes, Psicose, Lawrence da Arábia, O vento Levou, A Dulce Vida, 007, Jerry Lewis e quantos outros bons da época, e até alguns da para vermos novamente sem se arrepender e que muitas vezes superam os filmes atuais, não pela qualidade técnica, mas pela história que levava tempo para a sua realização. Chega de efeitos, que só agradou no início, mas hoje é uma parafernália de sons e efeitos que cansam nossos ouvidos. Na saída do cinema, nós podíamos acender um cigarro HOLLYWOOD, por que dentro do cinema, era proibido. Só de brincadeira, pois nem naquela época, eu fumava, onde uma grande maioria se dava a esse luxo de acender um cigarro HOLLYWOOD, mais como uma forma de se auto-afirmar ou demonstração de importância. Eu sempre fui contra, a tudo o que serve para dar azar a nossa saúde e a nossa vida. Eu me preocupava com o meu bom viver saudável, considerando que a minha vida pregressa eu era de constituição muito fraca. A gente poderia também naquela época saudosa, ir passear na Praça da Alfândega, tomar um refrigerante chamado CRUSH, “que saudades” e pedalar nos barquinhos românticos com a nossa namorada, ou mesmo sozinho, pelo lago da REDENÇÃO. E ainda nós podíamos fazer tudo isso, sem se preocupar com a segurança. Nós tínhamos a liberdade de sair, passear e voltar com a integridade física sem problemas. Existiam os crimes, mas eram feitos com mais reariodades, mas o andar na rua, e passear, eram permitidos com o mínino de preocupação a respeito da segurança física. Nesse ponto naquela época era muito melhor. Ainda não tinham inventado e nem precisavam das cercas elétricas para dar mais segurança às famílias, e só por isso é possível ver o quanto o mundo se tornou mais violento e mais ameaçador. Como já citei, sou do tempo dos BONDES. “Hoje tem outras conotações para BONDES”. Aqueles meios de transportes eram uma festa em Porto Alegre. Tinham várias linhas que ligavam os bairros ao centro. Para lembrar: Glória, Teresópolis, Petrópolis, Azenha, Menino Deus, Floresta, Partenon etc. Eu preferia aqueles bondes chamados de GAIOLAS, que dava aquela sacolejada quando andava, pois era mais curto dos demais e tinham menos rodas. De vez em quanto caia a alavanca que prendiam nos fios que energisavam o seu andar e o BONDE paravam repentinamente, e o cobrador tinha que recolocá-lo. O Povo ia todo amontoado, pelo menos na hora do pico, e muitos jovens, não pagavam a passagem. Era uma desordem e não sei como os motorneiros, fiscais e cobradores, faziam a sua contabilidade. Era neste horário que eu normalmente ia, para não pagar a passagem, mas sempre de olho no cobrador, e quando ele ia para frente eu ia atrás dele, mas sem que ele me visse. “Coisa feia de jovem” mas a maioria das vezes eu me dava o luxo de pagar a passagem, pois nem sempre o BONDE estava com lotação completa. Quando eu ia ao centro, comprava um pão gostoso na confeitaria ROCCO, que era uma das mais requisitadas pelo povo, e depois ia tomar um cafezinho no bar RIAN, mas passava anteriormente pela Praça Quinze (que ainda existe), e via os fotógrafos LAMBE LAMBE, que quando tiravam as fotos escondiam a cara dentro de um pano preto. Pareciam que queriam se esconder, mas era para revelar as fotos que não podiam ter incidência de luz. Mas quando chegavam os fins de semana, eu pegava a minha Lambreta, e falava: Tramandaí aguarde que já estou indo. Deslocava-me pela estrada de Santo Antonio da Patrulha, onde obrigatoriamente teria de fazer uma parada para comer aquele SONHO que só lá sabiam fazer de uma forma tão gostosa. E não adiantava querer pegar outro caminho, pois só existia esse. Tempos mais tarde, inventaram a tal de FREE WAY, que facilitou e ida para a praia de Tramandaí. Depois de umas três horas eu chegava à praia, apresentando a minha maquina e eu cheirando óleo, mas as gurias gostavam, pois se o garoto estava com cheiro de óleo, é porque tinha uma lambreta. Para quem não sabe, o motor da lambreta funcionava com gasolina e adição de óleo que produziam uma fumaceira pelo cano de descarga. Era uma máquina de dois tempos. Que saudades da Lambreta e por tudo o que eu fiz com aqueles oito HP e com 150 cilindradas, rodinhas pequeninas com 10 polegadas, e parecia que o mundo não tinha limite com aquela máquina nas mãos. Naquele tempo era assim. Todo o pouco que possuíamos era acompanhado do seu romantismo e de um pouco aventura saudável. Era uma vida com o pouco que possuímos, mas que usufruíamos como se tivéssemos muito. Outro tipo de aventura era ir para a praia do Ipanema (a nossa). Fazer o que? Aparecer para as gatinhas. Lá eu ficava até o anoitecer. Se conhecesse alguma gatinha que desse na afeição, colocava-a na garupa da Lambreta e nós rumávamos para frente da redenção para comermos um gostoso cachorro quente no ZÉ DO PASSAPORTE, apesar de não ter muitas opções, mas era ele o Zé do Passaporte, que tinha a melhor receita. Era um carrinho tipo calhambeque, que fez nome no lugar que estava estabelecido. Alguém deve lembrar dele? Eu tenho muitas saudades das coisas boas vividas no meu tempo e sem muitos atropelos da vida louca que vivemos hoje. “AS PASSAGENS DO TEMPO DEVE SER UMA CONQUISTA E NÃO UMA PERDA