Numa dessas manhãs de final de inverno, com características de verão...sol quente, vento abafado, rio seco... na minha caminhada matinal, passei pela ponte de cimento, construída em 1933, no pós Revolução de 1932. Enfrentava a dedicação aos quilômetros com alguma preguiça. Meus pensamentos voavam sobre a terra que recebia os meus passos. De repente...olhei para o pé de ingá, favorito da minha infância, vi uma canoa ancorada junto aos rochedos, na parte com a mais brava corredeira do Rio Paraíba do Sul. Lembrei-me do meu velho Pai.
Meu Pai... um índio puri, aventureiro, desbravador das águas, construía as suas canoas com pequenos troncos. Subia rio acima, em pé, remando, equilibrando o seu corpo franzino. Muitos filhos... precisavam de alimentos. O recurso era o rio...o Rio Paraíba do Sul. Canoa lotada de peixes, lambaris, cascudos, traíra, curimbatás, bagres, surubins...dourados. Era uma festa!
E... nessa andança nostálgica, lembrei-me das aulas de tarrafas, covos, redes. Eram momentos de grande aprendizado, não só da habilidade no artesanato, como as histórias contadas ao longo das aulas realizadas no imenso terreiro da nossa casa ribeirinha, metade feita com tijolos, metade com pau a pique.
Quando o primeiro radinho foi comprado... a família se reunia para o artesanato ao som de músicas e notícias de um mundo distante daquela nossa realidade.
O mundo mudou, mas a semente lançada...ficou!
Senti uma saudade imensa do meu pai,o guerreiro puri, livre como um pássaro, forte, destemido, determinado, sábio...
foto by Zaciss